Lê-se na introdução: "São três mil e quinhentos milhões: São mais jovens, trabalham e estudam mais do que nós. Têm mais poupanças e mais capital para investir. Inúmeros Prémios Nobel. Os seus salários são muitíssimo mais baixos. Têm arsenais nucleares e exércitos de pobres. A China e a Índia não são apenas as duas nações mais populosas do planeta: são o novo centro do mundo." Palavras que revelam o programa da obra. O autor, Federico Rampini, é correspondente do "La Repubblica" em Pequim. Publicou anteriormente "O Século Chinês", um êxito editorial. Conhece pois muito bem o terreno de que nos fala, combinando o método do jornalista e o entusiasmo do narrador. Aqui, o leitor é conduzido numa visita guiada através dos dois países, sendo analisadas as perspectivas de competição e colaboração das duas economias num futuro próximo e os motivos pelos quais a China e a Índia serão responsáveis por 42% do PIB mundial em 2030, deixando para trás os Estados Unidos com 23% e a Europa com apenas 16%. E por detrás dos números, equaciona a complexa realidade que os suporta, socorrendo-se de uma bem documentada análise política e cultural dos dois países, numa perspectiva dinâmica e aberta. Em suma, Rampini revela por que é que a China e a Índia serão no futuro próximo os pesos-pesados da economia global. Sem deixar, porém, de destacar as contradições do regime ditatorial chinês: uma cleptocracia paternalista, em que uma economia de mercado predatória, sem limites, embora sob a tutela do Partido Comunista (cuja nomenclatura se transformou numa ávida classe de empresários), coexiste com a ausência de regras democráticas, de direitos fundamentais e de qualquer modelo de solidariedade social. Onde os custos da perfomance económica passam pelo números do trabalho infantil, pela deslocalização forçada de populações inteiras, pelo pesadelo ambiental - Xangai, Cantão e Pequim, cada uma com cerca de 20 milhões de habitantes, estão envoltas num permanente fumo tóxico, os principais rios são pouco mais que esgotos a céu aberto, com níveis de poluentes químicos assustadores, as condições sanitárias nas áreas populosas são propícias ao desenvolvimento de novas epidemias, etc -, pelas circunstâncias infra-humanas, de quase escravatura, em que vivem e trabalham grande parte dos trabalhadores fabris. Os quais chegam aos milhões todos os anos às grandes metrópoles, vindos das zonas rurais. A exploração é comum tanto às unidades mais pequenas (trabalho ao domicílio no ramo das confecções e sapatos) como àquelas de grande dimensão que as multinacionais subcontratam, da Nike à Timberland, da Walt Disney à Puma. Do outro lado, o enorme teste por que passa a maior democracia do planeta, sobretudo depois do episódio do estado de sítio declarado por Indira Gandhi nos anos 70. Ás voltas com níveis de corrupção altíssimos e uma burocracia paralisante.
Algumas curiosidades são relatadas, escolhidas de entre centenas: as autoridades de Nova Deli conseguiram remover as vacas da cidade através de um microchip desenvolvido localmente e implantado nos animais; os números do Instituto Indiano da Ciência, em Bangalore (a Silicon Valey indiana), a mais selectiva das Universidades, de onde saem os investigadores mais procurados pelas multinacionais da informática e da electrónica; porque é que a prevista cotação do iuane - a moeda chinesa, recentemente revalorizada, o que tornou o made in China um pouco mais caro, para alívio da Europa e EUA - pode constituir uma autêntica revolução nos mercados financeiros; as contrapartidas que o Governo chinês impôs à Airbus para firmar o recente contrato de fornecimento de 150 aviões A320; as notas de euro poderão ser impressas na Malásia, porque a empresa holandesa qua ganhou o respectivo concurso aí montou a sua principal unidade de produção. Imprescindível para a compreensão do mundo actual.
Algumas curiosidades são relatadas, escolhidas de entre centenas: as autoridades de Nova Deli conseguiram remover as vacas da cidade através de um microchip desenvolvido localmente e implantado nos animais; os números do Instituto Indiano da Ciência, em Bangalore (a Silicon Valey indiana), a mais selectiva das Universidades, de onde saem os investigadores mais procurados pelas multinacionais da informática e da electrónica; porque é que a prevista cotação do iuane - a moeda chinesa, recentemente revalorizada, o que tornou o made in China um pouco mais caro, para alívio da Europa e EUA - pode constituir uma autêntica revolução nos mercados financeiros; as contrapartidas que o Governo chinês impôs à Airbus para firmar o recente contrato de fornecimento de 150 aviões A320; as notas de euro poderão ser impressas na Malásia, porque a empresa holandesa qua ganhou o respectivo concurso aí montou a sua principal unidade de produção. Imprescindível para a compreensão do mundo actual.
Ficha: China e Índia, Federico Rampini, Editorial Presença, Março 2007
Boa abordagem. vamos ver o que o futuro reserva.
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