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terça-feira, 10 de julho de 2007

O sangue dos outros

"Ninguém dá lições de democracia ao PS", vociferava há dias na AR o chefe do grupo parlamentar daquela força política. Aconteceu durante o debate realizado a propósito de conhecidos casos de perseguição, por via disciplinar, de funcionários que alegadamente cometeram delito de opinião. A suprema arrogância desta frase diz-me praticamente tudo acerca de quem nos governa. Condensa duzentos anos de equívocos e de sombras jacobinas. Bem andou Kant, quando detectou na possibilidade de uma acção poder ser ou não universalizada o fundamento para o único padrão ético.
Como prova de que a invocação de uma paródica superioridade moral anda de mãos dadas com a leviandade, apetece citar um excerto de um sugestivo texto de José Gomes André, no "Bem pelo Contrário". Isto a propósito das vaias e assobios dirigidos à Estátua da Liberdade, durante a Gala das 7 Maravilhas do Mundo, realizada há dias:

O mundo ocidental está tão farto de si mesmo, tão cheio da sua felicidade e simplicidade e comodidade, que olvidou os seus pilares morais, o sangue que outros derramaram em seu nome e as suas referências históricas. E não percebe que essas conquistas exigem que as estimemos e as preservemos com todo o cuidado. No dia – e esse dia está demasiado próximo – em que as esquecermos por completo, poderemos ter uma triste surpresa, e descobrir que aquilo que sempre demos por adquirido não passava, afinal, de uma frágil realidade, e a partir desse dia, talvez demasiado distante para ser recuperada.

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