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quinta-feira, 14 de junho de 2007

A vida alternativa


O "Second Life" é muito mais do que um jogo. Basicamente, trata-se de um número potencialmente infinito de ambientes virtuais em 3D, onde os vários personagens se deslocam e recriam permanentemente. A comunicação é feita em tempo real e o nosso "boneco" pode teletransportar-se em qualquer momento para os vários cenários que desejar. Tudo tem um preço, é claro. Até a roupa que se usa. E há mil e uma formas de se ganhar dinheiro. Desde ganhar um rodeo até à prostituição, passando pela troca directa de objectos e conseguir dançar nú durante x tempo numa pista em Ibiza virtual. De resto, pode-se consumir qualquer substância e aceder a qualquer lugar, desde que não faltem os "trocos". Por falar nisso, a unidade monetária é o "Linden". Ontem, por exemplo, "puseram-me" um charro nas mãos. Passado um bocado, já andava o boneco aos tombos, vendo tudo turvado. Nada é deixado ao acaso: se se está numa pista de dança, ouve-se o som que lá passa; se em vôo, é a doçura da brisa que nos envolve; se numa rua movimentada, todos os sons vêm ter connosco. Tudo é possível, menos morrer. Para uma melhor compreensão do fenómeno, basta dizer que o número de residentes já vai em 7. 224. 845 e diariamente se gastam 1.321.285 linden. Para entrar, basta um registo e a criação de um personagem. Pelo que vi até agora, nada do que se lá passa difere grandemente da vida real: uma deriva narcisista onde cabe a busca alucinada por dinheiro, sexo, imagem, reconhecimento. Mas também se nota uma disponibilidade e uma generosidade que escasseiam no mundo "real". Para além de tudo o resto, o jogo tem uma particularidade: é a concretização inequívoca da máxima iluminista " todos nascem livres e iguais". Tanto assim é, que todo o "estreante" é lançado como veio ao mundo numa paragem inóspita. Depois é só questão de lançar mão dos expedientes necessários para o "desenrascanço". Até aqui, para o tuga, a "coisa" ainda está naturalmente de feição. O problema é que o jogo é uma criação americana. Como tal, existe nele uma ingrediente-base que nos é ainda estranho: a meritocracia. Um imperativo de justiça social, mas que facilmente se pode tornar na falácia de bolso dos poderosos.

1 comentário:

  1. Hoje à noite já vou ver como é que o jogo funciona. Depois digo-te alguma coisa.

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