Todavia, o autor de "Levantado do Chão" não deixa de sucumbir perante o milenarismo neo-realista: "Estamos a chegar ao fim de uma civilização e aproximam-se tempos de obscuridade, o fascismo pode regressar; já não há muito tempo para mudar o mundo". Pelos vistos, o fim da modernidade (isto é, do entendimento da história como uma unidade) e da guerra fria ainda não foram digeridos pelo nobelizado. Mas é com gosto que se registam os seus apelos à insubmissão. Mesmo que tenham o sabor requentado de um soundbyte apropriadado para a plateia. Ou sabendo-se que, para um comunista, a liberdade auto-determinada é pouco menos do que uma heresia. Por outro lado, o fascismo não regressa, pois já aí está. Convenientemente diluído no quotidiano, até se tornar quase indetectável. Dizia ontem o Pedro Mexia na sua crónica do "Público", a propósito de um novo absolutismo - a idealização do mundo infantil - que se hoje fizesse uma simples e inocente festa numa criança na via pública, seria logo olhado de viés pelos transeuntes. Possivelmente, um polícia iria tomando notas, acrescento.
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