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sexta-feira, 4 de maio de 2007

A balança

Ontem vi parte do debate televisivo que opôs Ségolène Royal e Nicolas Sarkozy, os dois candidatos que vão disputar no domingo a 2ª volta das presidenciais em França. Num contraditório de grande qualidade, os temas discutidos nesse excerto centraram-se em política nacional - saúde, emprego, fiscalidade, segurança social, competitividade e segurança. A candidata socialista pareceu-me muito bem preparada e bastante incisiva. O gaulista jogou mais à defesa. Se o debate fosse disputado aos pontos, diria que houve um empate técnico, uma vez que a solidez argumentativa e o conhecimento das matérias foram repartidos pelos dois de forma equitativa. Algumas notas a registar:
1º ambos evidenciaram um discurso claro e conciso, apoiando sempre a argumentação dispendida em números, na experiência pessoal, ou num programa presidencial preparado até ao ínfimo pormenor. São as figuras de proa de uma renovação geracional e de um modo diferente de estar na política.
2º temas como o SMIC (salário mínimo), reforma antecipada, horas extraordinárias, as 35 horas, número de funcionários públicos, peso da Administração, pleno emprego, integração das minorias, emigração, dominaram essa parte do debate. Royal mostrou-se avessa a grandes mudanças nos direitos sociais e laborais. O seu discurso passou ao lado da moderna social-democracia europeia. Sarkozy deu a entender que não há direitos sem responsabilidades e que certas "conquistas" não podem ser encaradas como dogmas. Em relação à integração das minorias, optou claramente por um modelo anglo-saxónico, em vez do paternalismo assistencialista que tem dominado em França. Por outro lado, num país onde o sector público representa uma parte substancial da economia, que não mostra sinais de crescimento, muita coisa haverá a fazer em relação à competitividade. Em resumo, a primeira quer aperfeiçoar o sistema, de forma um pouco difusa. O segundo torná-lo mais eficaz, em torno de um programa bastante coerente.
3º confesso que, fosse eu cidadão francês, teria muita dificuldade em decidir o meu sentido de voto. Agrada-me a forma corajosa como Sarkozy rompe com certos tabus (para a esquerda). Mas desconfio dos seus métodos. Por outro lado, as preocupações sociais de Royal despertam a minha simpatia. Mas, lá como cá, parecem destinadas mais a tranquilizar aqueles que já beneficiam do sistema. Impedindo que a sociedade gere a sua própria dinâmica. Mas foi sobretudo a intenção desta última em reabrir o processo de aprovação de um novo tratado constitucional europeu maximalista que me fez recuar. Embora desconfie que, na hora da verdade, lhe desse o benefício da dúvida.

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