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quinta-feira, 12 de abril de 2007

Vanitas vanitatum, et omnia vanitas

Sócrates acaba de quebrar o silêncio sobre o seu percurso académico e título profissional. Depois de ter ficado claramente demonstrado que mentiu em relação a ambos, pelo menos até 1996. Fica ainda por apurar se alguma vez esteve inscrito na Ordem dos Engenheiros, condição para usar o título respectivo. Na entrevista que deu na TV pública, Sócrates podia, mesmo assim, salvar a face, admitindo que mentiu. Talvez assim criasse uma empatia com o país e a sombra de uma ética duvidosa que sob si pesa fosse atenuada por uma magnanimidade desculpabilizante em que somos pródigos. Podia mesmo revelar que, como dizia o Ricardo Araújo Pereira, tudo aconteceu por pressão da mãe, que assim já podia dizer às amigas que tinha um filho engenheiro ( primeiro ministro soa assim como que demasiado oficial). Que diabo, o homem nem precisava de ser nenhum Eiffel, bastava só o titulozinho para emoldurar a vaidade! Enfim, podia tudo repousar no limbo do pecadilho menor, suscitando uma complacência popular que advém da cumplicidade. Reconhecendo a fraude, poderia transformá-la numa trapalhada benigna, justificável pela ânsia de respeitabilidade que, no imaginário popular, um título académico concede. Mas nada disso aconteceu: manteve a conhecida pose característica de uma fleuma trabalhada, que esconde uma profunda arrogância. E querendo mostrar, à força, uma tranquilidade unicamente traída por um ligeiro tremor da voz. Recorreu mesmo a umas máximas que exaltam a coragem perante a adversidade, mais destinadas a convencer-se a si próprio do que ao auditório. Em suma, a peça foi boa, mas a representação péssima. Assim não, sr. Primeiro Ministro.

Sobre o percurso académico de Sócrates, ver aqui mais informação.

2 comentários:

  1. Agora soube-se que esteve matriculado na Lusíada, em Direito, durante três anos. Nunca lá pôs os pés. Temo que, um destes dias, apareça por aí uma certidão atestando a sua licenciatura. Com distinção, claro.

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