Recapitulemos então os expedientes já utilizados: criação da grotesca Entidade Reguladora para a Comunicação Social e reforço dos poderes da Comissão para a Carteira; pressões exercidas pelo Governo no decurso da investigação das tropelias académicas do “engenheiro” Sócrates (“jornalismo de sarjeta”, nas palavras do Ministro da Tutela, um conhecido ex-trotsquista); criação de um blogue, pelo Ministério da Administração Interna, destinado a desmentir as críticas veiculadas pela Imprensa e blogosfera, sob os auspícios do zelota José Magalhães; por último, crème de la crème, a recente ofensiva contra a blogosfera.
Era aqui, neste universo de proximidade e de suprema liberdade, que faltava ao poder socialista “meter a unha”. O Primeiro-Ministro abriu as hostilidades, numa entrevista à RTP1, queixando-se que dele se diz “cobras e lagartos” nos blogues. E que, não fora ser superior aos “ataques”, estariam os tribunais inundados de processos por injurias e difamação. O PM está claramente equivocado. É que, ao invés de alguns jornalistas, os blogonautas não dependem dela para viver. Nem a lógica da blogosfera é assimilável à centralidade informativa ou a qualquer gregarismo opinativo. Que escapa à facilidade com que o clássico jornalismo de papel é fiscalizado ou condicionado.
Este Governo e esta maioria não sabem lidar com a crítica. Incomoda-o o livre escrutínio do seu desempenho pelos cidadãos. Afirmou-se, pelo contrário, uma tendência fiscalizadora, regulamentadora, o corolário de uma indisfarçável arrogância e de um insuportável sectarismo. Neste caso da TVI, os liberais mais cínicos dirão que se trata de uma empresa privada, cujos accionistas poderão orientar no sentido que bem entenderem. E esse sentido, como é óbvio, é o das tendências do mercado e dos números das audiências. Mas alguém terá ilusões que na TVI haverá informação imune a pressões governamentais e divergente em relação aos objectivos da governação socialista?
2. Na decorrência de mais um aniversário do 25 de Abril, é conveniente também reflectir sobre a perversão dos mecanismos basilares da representação democrática. Pina Moura foi eleito deputado em 2004 pelo círculo eleitoral da Guarda. Foi designado como cabeça de lista por um directório partidário - as usual - sendo que a sua única ligação efectiva ao distrito era a naturalidade: Loriga. Esperava-se pois que, no mínimo, cumprisse o seu mandato até ao fim. No interesse sobretudo da região que o sufragou. A não ser, como se tornou hábito, que fosse entretanto designado para um cargo governativo. Mas quatro anos é muito tempo, claro está. Se antes não se tinha dado por ele na A.R., agora o seu nome circula na praça pública pelas piores razões: a meio de um mandato tribunício, o ex-comunista, deslumbrado com as benesses do poder socialista, pede escusa e passa-se para o sector privado. De onde, afinal, nunca saiu. Será que quem votou nele não se sentirá traído, uma espécie de conivente descartável? Desse desconforto, pelo menos, estou dispensado, valha a verdade. Mas não da inquietação com que observo este autêntico assalto ao 4º poder comandado pelo Governo.
Publicado no jornal "O Interior"
Um verdadeiro gestor "moderno". Será que ainda lê as "Obras Completas" do Lenine?
ResponderEliminarDá-lhes forte e feio na corja socialista, Gil. O poder está blindado. Para quando a renovação?
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