empilham-se as folhas mortas
e tudo é deserto.
Entrega ao salgueiro
o tédio e todo o desejo
do teu coração.
Entre os pessegueiros,
florindo por todo o lado,
agora a cerejeira.
Esvai-se o som da noite;
sobre o perfume das flores —
um sino tocou.
No meio da planície
uma cotovia canta,
liberta de tudo.
Ao longo da estrada,
ninguém se vê caminhar;
cai a noite de outono.
Matsuo Bashô
Sobre o HAIKU: breve composição poética, de origem japonesa (também chamada hokku, haikai ou haicai) que se funda nas relações profundas entre homem e natureza; e obecede à estrutura formal de 17 sílabas ou fonemas, distribuídos em 3 versos. O fundamento filosófico do haiku é po preceito budista de que tudo neste mundo é transitório e que o importante é sabermo-nos feitos de mudanças contínuas como a natureza e as estações (primavera, verão, outono e inverno). Foi no séc. XVII, com Matsuo Bashô (1644-1694), grande mestre de haikai renga, que a forma hokku começou a ganhar presença autónoma e profundidade existencial. Mas só em fins do séc. XIX, Masaoka Shiki (1867-1902), considerado um dos quatros grandes mestres do haiku, faz a aglutinação dos termos “haikai” e “hokku”, criando o neologismo “haiku”. A poesia do haiku deve ser “íntima e subjectiva, tendo como fonte um momento particularmente poético vivido pelo autor (descoberta do Kigo), não deve ser, portanto, poesia artificial e/ou imaginária.” No Ocidente, o haiku conservou a estrutura formal de origem, mas perdeu sua ligação com a tradição cultural japonesa, representada pelo Kigo; e assim transformou-se em forma poética condensada, gerada por uma sensação provocada por uma funda percepção sensorial. Embora não esteja ligado necessariamente ao Kigo (a um fenómeno sazonal), o haicai ocidental, via de regra, parte de uma percepção.
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