Konstandinos KAVAFIS (1863-1933), poeta grego, nasceu e morreu em Alexandria. A esta cidade, à sua história, suas glorias e em especial à vida que o havia procurado no seu contacto com os bairros populares, às concorridas festas de rua, cafés e hotéis de uma noite, dedicou Kavafis a sua obra. Apesar de muitos dos seus textos aludirem a temas do mundo helénico, bizantino ou persa. Não haja dúvida que os seus melhores momentos são alcançados quando a paisagem do poema é Alexandria. Kavafis criou a cidade na poesia contemporânea. «Eu sou, —disse referindo-se ao bairro marginal onde vivia-, o espírito. De fora está o corpo».
Seis dos seus poemas mais populares, que têm Alexandria como metáfora do destino, partem de uma história imaginada para partilhar a dor, o desconforto de viver num mundo iniludível. Este poema - I POLIS (A CIDADE) - fala-nos do termo da viagem, na(s) cidade(s) que cada um transporta, pois é aí que terminaremos os nossos dias. Consumido o tempo que nos foi dado, se não alcançamos a riqueza que dá o conhecimento, não haverá novos portos e todas as partidas serão inúteis. Eis duas versões - em português e castelhano - deste magnífico texto (o original grego poderá ser visto aqui):
Disseste: «Vou partir para outra terra, vou partir para outro mar.Seis dos seus poemas mais populares, que têm Alexandria como metáfora do destino, partem de uma história imaginada para partilhar a dor, o desconforto de viver num mundo iniludível. Este poema - I POLIS (A CIDADE) - fala-nos do termo da viagem, na(s) cidade(s) que cada um transporta, pois é aí que terminaremos os nossos dias. Consumido o tempo que nos foi dado, se não alcançamos a riqueza que dá o conhecimento, não haverá novos portos e todas as partidas serão inúteis. Eis duas versões - em português e castelhano - deste magnífico texto (o original grego poderá ser visto aqui):
Uma outra cidade melhor do que esta encontrar-se-á.
Cada esforço meu um malogro escrito está;
e é - como morto - enterrado o meu coração.
A minha mente até quando irá ficar nesta estagnação.
Para onde quer que eu olhe, para onde quer que fite por aí
ruínas negras da minha vida vejo aqui,
onde tantos anos passei e dizimei e dei em estragar.»
Lugares novos não vais encontrar, não encontrarás outros mares.
A cidade seguir-te-á. De volta pelos caminhos errarás
os mesmos. E nos bairros os mesmos envelhecerás;
e dentro dessas mesmas casas cobrir-te-ás de cãs.
Sempre a esta cidade chegarás. Para os noutra parte - esperanças vãs -
não há barco para ti, não há partida.
Assim como dizimaste aqui a tua vida
neste pequeno recanto, em toda a terra a vi estragares.
tradução de Nikos Pratsinis e Joaquim Manuel Magalhães, Relógio d'Água, 2005
Dices:
Iré a otra tierra, a otro mar,
otra ciudad mejor que ésta encontraré.
Todos mis esfuerzos son una condena y
casi muerto está mi corazón.
¿Hasta cuándo podré, aquí, languidecer?
Adonde vea, cualquier cosa que mire,
veo las negras ruinas de mi vida aquí
donde he gastado tantos años,
desperdiciados, destruídos totalmente»
No encontrarás otra tierra, otro mar.
La ciudad te perseguirá.
Caminarás las mismas calles, envejecerás en los mismos barrios,
en las mismas casas encanecerás.
Aquí terminarás, no esperes nada mejor.
No hay barco para ti, no hay camino.
Como has destruido aquí tu vida,
en esta angosta esquina de la tierra,
así las has destruido en todo el mundo.
Iré a otra tierra, a otro mar,
otra ciudad mejor que ésta encontraré.
Todos mis esfuerzos son una condena y
casi muerto está mi corazón.
¿Hasta cuándo podré, aquí, languidecer?
Adonde vea, cualquier cosa que mire,
veo las negras ruinas de mi vida aquí
donde he gastado tantos años,
desperdiciados, destruídos totalmente»
No encontrarás otra tierra, otro mar.
La ciudad te perseguirá.
Caminarás las mismas calles, envejecerás en los mismos barrios,
en las mismas casas encanecerás.
Aquí terminarás, no esperes nada mejor.
No hay barco para ti, no hay camino.
Como has destruido aquí tu vida,
en esta angosta esquina de la tierra,
así las has destruido en todo el mundo.
tradução de Harold Alvarado Tenorio
Também gosto muito do Kavafis
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