A vidinha lá fora, a vidinha a querer entrar, devagarinho, a vidinha a escusar-se graciosamente ao soco, ao pontapé, ao empurrão, aos cornos da verdade, a vidinha a crescer, a crescer numa voragem vegetal, imparável, a vidinha e as suas mil desculpas para não ser vidinha, a vidinha embaraçada por não conhecer a vertigem, o medo, o êxtase, a inquietude, a nudez, a vidinha a olhar para o relógio, a vidinha a querer passar por outra coisa, quando só quer ser vidinha, cada vez mais vidinha, exclusivamente vidinha, escancaradamente vidinha, eternamente vidinha, a vidinha superlativa e exdrúxula, a vidinha circunspecta, a vidinha a esconder as suas grilhetas, a vidinha a assoar-se, a vidinha a ir às putas, a vidinha a corar, a vidinha a vidinhar, a vidinha a puxar as ligas, a vidinha agorafóbica, a vidinha vestida de preto, a vidinha a crescer, a crescer, a vidinha a puxar a corda, a vidinha a tombar, graciosamente, é claro, a vidinha à minha espera.
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Há qualquer coisa de A. Lobo Antunes neste Post, brilhante, por sinal. Tão bom que não vou resistir à tentação de te citar no meu blog http://espiralmedula.blogspot.com/ (era só para avisar!)
ResponderEliminarA saga da vidinha requer continuidade, por isso aqui deixo a minha re-Petição. Vou ficar atenta!
Ana:
ResponderEliminarComo comentei no teu blogue - que já incluí no "inner circle" - "a "raiva" com que se escrevem certos textos é tão intensa como o prazer em vê-los partilhados desta forma".
Boas bloguices