A recente investigação jornalística, conduzida pelo "Público", acerca da forma como Sócrates obteve a sua licenciatura em Engenharia Civil na Universidade Independente, já mereceu vários desenvolvimentos políticos e comentários na blogosfera. Inclusivamente, suscitou uma reacção algo despropositada do Primeiro Ministro. O processo é realmente confuso. E com vários rabos de palha pelo meio. No mesmo sentido deste post, creio que, havendo realmente razões para pôr em causa a forma como o grau académico foi obtido, o jornal deveria ter ido até às últimas consequências. Isto é, demonstrar que houve irregularidades, sem medo e sem aligeirar responsabilidades. No entanto, não creio que haja por detrás desta investigação qualquer propósito ad hominem em relação a Sócrates, mas tão só o apuramento de eventuais irregularidades na licenciatura que obteve. No fundo, é irrelevante o seu título, mas já não a forma como o conseguiu, pois ninguém está acima da lei. Ponto. Mas esta questão, pelas sequelas que já teve e ainda poderá ter, revela muito acerca da realidade do país:
Em primeiro lugar, é claro que Portugal é a coutada dos doutores. A evidência - queirosiana - retira-se desde a forma acintosa como os autores de "As Farpas" (essa "chrónica" fantástica) se referiram ao assunto, até um episódio patético - que presenciei - em que um aluno finalista do politécnico da cidade onde vivo pouco faltou para agredir um funcionário bancário, só porque o seu "título" académico - supõe-se que o "dr" da ordem - tinha sido omitido no cartão de débito. A prosápia balofa e uma espécie de afectação provinciana do "doutor" só existem porque a subserviência perante a pose, a ostentação e o "poder" ainda são realidades profundas no nosso país. Seja nas grandes cidades ou na província. Nas primeiras, o "doutor" é mais sofisticado,oculta melhor a sua arrogância e anda quase sempre próximo da enxúrdia da burocracia ou de bolsas de influência. Na segunda é genuinamente patético e não raro aprumando-se atrás de uma erudição saloia e alvesambrosiana (private joke). Chegado aqui, devo dizer que possuo uma licenciatura. Ora, uma licenciatura representa, em rigor, o quê? Creio que é simplesmente a certificação de uma aptidão, de um saber. Não qualifica o seu titular, mas o conhecimento que supostamente possui. Que o habilita ao exercício de determinadas profissões. E onde a autonomia alcançada não significa auto-suficiência, mas um "dever" de curiosidade,à maneira dos Renascentistas.
Por outro lado, este caso revela a forma como a esmagadora maioria dos políticos efectua a sua trajectória pessoal na res publica. Fazem-no quase sempre dentro dos aparelhos partidários, onde começam por agitar umas bandeiras e carregar uns pianos. De underdogs chegam a responsáveis por qualquer coisa, depois delegados a um Congresso, depois elegíveis, depois eleitos, depois gerindo influências, depois nomeados para um cargo governamental. Em qualquer caso, sempre surdos, sempre à sombra do útero partidário, sempre à margem das misérias e grandezas do cidadão comum. Sócrates não é excepção. Mesmo aplaudindo o seu magistério governativo, não se pode esquecer que, tal como os demais, foi embalado na estufa partidária antes de dar à luz. Ora, não é difícil adivinhar que uma licenciatura para apagar o estigma do "engenheiro técnico" veio mesmo a calhar. O glamour académico no papel da miraculosa pomada (placeba) dos feirantes e do TV Shop. Pois.
Em primeiro lugar, é claro que Portugal é a coutada dos doutores. A evidência - queirosiana - retira-se desde a forma acintosa como os autores de "As Farpas" (essa "chrónica" fantástica) se referiram ao assunto, até um episódio patético - que presenciei - em que um aluno finalista do politécnico da cidade onde vivo pouco faltou para agredir um funcionário bancário, só porque o seu "título" académico - supõe-se que o "dr" da ordem - tinha sido omitido no cartão de débito. A prosápia balofa e uma espécie de afectação provinciana do "doutor" só existem porque a subserviência perante a pose, a ostentação e o "poder" ainda são realidades profundas no nosso país. Seja nas grandes cidades ou na província. Nas primeiras, o "doutor" é mais sofisticado,oculta melhor a sua arrogância e anda quase sempre próximo da enxúrdia da burocracia ou de bolsas de influência. Na segunda é genuinamente patético e não raro aprumando-se atrás de uma erudição saloia e alvesambrosiana (private joke). Chegado aqui, devo dizer que possuo uma licenciatura. Ora, uma licenciatura representa, em rigor, o quê? Creio que é simplesmente a certificação de uma aptidão, de um saber. Não qualifica o seu titular, mas o conhecimento que supostamente possui. Que o habilita ao exercício de determinadas profissões. E onde a autonomia alcançada não significa auto-suficiência, mas um "dever" de curiosidade,à maneira dos Renascentistas.
Por outro lado, este caso revela a forma como a esmagadora maioria dos políticos efectua a sua trajectória pessoal na res publica. Fazem-no quase sempre dentro dos aparelhos partidários, onde começam por agitar umas bandeiras e carregar uns pianos. De underdogs chegam a responsáveis por qualquer coisa, depois delegados a um Congresso, depois elegíveis, depois eleitos, depois gerindo influências, depois nomeados para um cargo governamental. Em qualquer caso, sempre surdos, sempre à sombra do útero partidário, sempre à margem das misérias e grandezas do cidadão comum. Sócrates não é excepção. Mesmo aplaudindo o seu magistério governativo, não se pode esquecer que, tal como os demais, foi embalado na estufa partidária antes de dar à luz. Ora, não é difícil adivinhar que uma licenciatura para apagar o estigma do "engenheiro técnico" veio mesmo a calhar. O glamour académico no papel da miraculosa pomada (placeba) dos feirantes e do TV Shop. Pois.
Gostei. Quando é que escreves um texto sobre as universidades privadas, à boleia da situação na Independente? Vá lá, eu sei que quem passou pelas públicas adora fazer isso. Mas não critico os críticos das "privadas". Aquilo é mesmo uma negociata onde quem paga passa.
ResponderEliminarSoube agora que o Ministro da tutela ordenou o encerramento compulsivo da Univ. Independente. Ao assunto dedicarei uma postagem. Quanto a Sócrates, está mais do que provado de que mentiu diversas vezes quanto às suas reais habilitações académicas e profissionais.
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