Não, não é cansaço, tal como o Álvaro de Campos. É tropeçar na memória, numa paisagem onde a incerteza já não me espantasse, dançar em jardins de fogo e entrever a inocência plantada na obstinação das pedras. Não, não é só cansaço, mas sobretudo cansaço. De tanto se resumir a tão pouco. De a realidade não desmentir o pesadelo. Afinal, não tenho visto ninguém a abrir uma frente nova na sua vida e abraçar o desconhecido. Dar importância a quem a merece. Muitos sorrisos e promessas ruidosas, resplandecentes, e que, já se sabe, nunca irão ser cumpridas. No final, as piedosas desculpas do costume. Julga-se encontrar alguém e encontra-se um saco de justificações. Há para todos os gostos e feitios. Em comum, a tibieza e o pavor dos grandes gestos. É cansaço, sim, um cansaço do tamanho do mundo. No final, a única e fundamental descoberta: estamos sós. Sós perante Deus. Sós perante o que conseguimos ser. E o que não conseguimos. Perante a luz decapitada.
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Vá lá Gil, aproveita a embalagem. Esses que só pensam na vidinha é porque não têm a consciência tranquila. Viverem os sentimentos intensamente como tu o fazes não faz parte do seu programa. Encara-os como uma excelente oportunidade para a compaixão.
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