Esta é a chamada época alta do turismo de montanha. Observar os forasteiros que visitam a Guarda neste período proporciona uma série de registos deveras interessantes.
Desde logo, ressalta o aparato algo excessivo dos veículos "todo o terreno", equipados como se participassem numa expedição ao Ártico. O mesmo se diga do vestuário. Excessivo para o verdadeiro rigor do clima. Que justifica um agasalho suplementar, é claro, mas não uma autêntica mostra das últimas novidades das lojas da especialidade. É como se o desconforto que se adivinha no rosto dos forasteiros exigisse uma diferenciação "normalizada", defensiva. Aquela de quem está perto dos centros de decisão e consumo, face ao exotismo inóspito de um lugar que se calcorreia, mas não se escuta. Como um descargo de consciência sazonal, dos ricos em relação aos pobres, da agitação em relação ao silêncio, tanto mais episódico quanto mais se pressente que a matéria esmaga e é infinitamente exigente de tempo e de mistério. No fundo, vêm reivindicar uma imagem que já lhes foi vendida. E por nada deste mundo abdicariam dela. "A percepção é a realidade", dizem os gurus do marketing. Nem mais.
Desde logo, ressalta o aparato algo excessivo dos veículos "todo o terreno", equipados como se participassem numa expedição ao Ártico. O mesmo se diga do vestuário. Excessivo para o verdadeiro rigor do clima. Que justifica um agasalho suplementar, é claro, mas não uma autêntica mostra das últimas novidades das lojas da especialidade. É como se o desconforto que se adivinha no rosto dos forasteiros exigisse uma diferenciação "normalizada", defensiva. Aquela de quem está perto dos centros de decisão e consumo, face ao exotismo inóspito de um lugar que se calcorreia, mas não se escuta. Como um descargo de consciência sazonal, dos ricos em relação aos pobres, da agitação em relação ao silêncio, tanto mais episódico quanto mais se pressente que a matéria esmaga e é infinitamente exigente de tempo e de mistério. No fundo, vêm reivindicar uma imagem que já lhes foi vendida. E por nada deste mundo abdicariam dela. "A percepção é a realidade", dizem os gurus do marketing. Nem mais.
Publicado no jornal "O Interior"
bem observado
ResponderEliminarnão podia concordar mais. em manteigas é a mesma coisa. dá vontade de rir
ResponderEliminarIlustrando a perspectiva de um visitante, transcrevo um comentário a post idêntico que coloquei no blogue "Estados Alterados":
ResponderEliminar"Aprecio a forma como escreve, bem divertida e reveladora de espírito de observação.
Mas, para quem mora em locais onde nunca neva, é um gosto especial e um ritual comprar roupa para a neve. Sabemos que alguns agasalhos bem quentinhos servem muitas vezes. Mas, na realidade, vamos passear e temos gosto em preparar tudo ao pormenor."
10 de Dezembro de 2006 17:40 by HelderFraguas
A culpa também é da RTSE, dominada pelo Patrão & Cia e dos pelouros do turismo das Câmaras abrangidas pelo PNSE. Não há uma estratégia ambiciosa em termos de imagem turística para a região. O autêntico turismo de montanha tem a ver com o disfrute do património natural, não com avlanches de domingueiros que entopem a Serra aos fins de semana e vão comprar pechisbeque avulso na Torre.
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