Reflexões, notas, impressões, apontamentos, comentários, indicações, desabafos, interrogações, controvérsias, flatulências, curiosidades, citações, viagens, memórias, notícias, perdições, esboços, experimentações, pesquisas, excitações, silêncios.

quarta-feira, 26 de julho de 2006

Da linguagem - 2

A maioria dos homens é muito simples. Já as mulheres não, as mulheres complicam.Uma mulher nunca tem um namorado que não lhe liga, tem um namorado com traumas de infância que o impedem de comunicar. Uma mulher nunca tem um colega que não lhe liga, antes um ser torturado entre o afecto e o dever e não sabe o que fazer. Não tem um bandalho traidor e mentiroso, tem uma alma sensível com medo da intimidade e síndrome de Peter Pan e uma desgraçada de uma história de vida traumática que lhe explica os comportamentos menos ortodoxos. Para as mulheres é impossível aplicar o princípio de Occam, de eliminar o mais complicado para chegar à verdade. As mulheres, no geral, passam horas em análise depois de um encontro, depois de uma discussão, quando têm uma relação complicada. Reúnem as amigas em conselho de guerra e analisam, esmiúçam, dissecam cada palavra, cada gesto, cada atchim até lhes dar um sentido oculto e complexo. As mulheres são exímias intérpretes de sinais não verbais e de desejos subliminares, quer eles estejam lá, quer não. É a desvantagem de usar o lado direito e o lado esquerdo do cérebro. Os problemas de entendimento entre os sexos devem-se a questões de diferentes processos mentais e não só a educações e culturas diferentes para ambos os sexos. É verdade que muitos homens são complexos, mas no geral, quanto a emoções (não confundir com comoções), são claros como a água. Como diz um personagem do filme O Declínio Do Império Americano: "quando amo sinto desejo, e quando não desejo, não amo". Mainada. No geral, muito poucos homens fazem jogos mentais. Quando são opacos, esfíngicos, esquivos, é porque simplesmente não estão interessados. Só as mulheres conseguem ser tortuosas nestas coisas, porque os homens vão directos ao ponto de forma clara, mesmo que achem os seus esquemas subtis e elaborados.
Até aqui há uns anos, os homens eram educados para não mostrar emoções, serem frios e distantes. A minha geração foi a primeira que já não foi educada assim. Demonstrar emoções é coisa que não perturba. Se não as demonstramos, uma de três coisas pode acontecer: a) não estamos interessados; b) estamos interessados noutra pessoa; c) não estamos para nos dar ao trabalho, que mulheres há muitas, por isso esperamos até vir uma menos exigente. And that's all folks! Se um homem se esgueira a falar muito sobre emoções é porque ou não quer entrar ou quer muito sair da relação e não sabe bem como. Não nos incomoda a nega propriamente. Mas como elas pensam que ainda nos vemos como heróis de capa e espada prontos a servir a sua donzela, ou uns Steven Seagals prontos a andar à porrada por elas - o que no fundo até desejam, mas não admitem - detestamos ser desmancha-prazeres e dar más notícias directamente. E por isso adoramos tanto E-mails e SMS, formas ideais para acabar relações. As mulheres escreveriam cartas, debateriam semanas se era a atitude certa. Nós não, simplificamos ao telemóvel ou no MSN, evitando uma cena emocional. Nenhum homem que eu conheço sente uma necessidade inadiável de ir ter com os amigos e desabafar sobre a última discussão (será que ela ainda me ama ou a nossa relação está num marasmo?) ou dissecar aquilo que ela disse/fez/terá pensado/queria dizer (quando ela disse és um querido estava a ser simpática ou a dizer que gosta de mim de uma forma indirecta?). Estas coisas são puramente femininas. Até ver.