Há uma certa esquerda - representada pelo respectivo Bloco, satélites, amanuenses (tipo Daniel Oliveira) e afins - que adoptou um comportamento, digamos, sacerdotal, ao reivindicar incessantemente novos territórios para um sagrado de que se julga fiel depositária.
Numa operação bem urdida, muniu-se, em primeira linha, de uma canónica legitimidade moral, que ninguém pediu, mas que a todos impõe. Depois, vai coleccionando causas atrás de causas pour epater les bourgeois, devidamente artilhadas com soundbytes cirurgicamante dirigidos. A fase seguinte é mais delicada, incomparavelmente mais subtil: se antes criou um espaço, faltava avocar um tempo. De preferência um tempo imaginário e autofágico de que se julga a única intérprete qualificada, um tempo cuja idealização alucinada serve para justificar uma espécie de pedagogia revolucionária insuportavelmente paternalista.
É a tentação heurística no seu estado puro, mas sem a utopia como pano de fundo natural. Não! A construção é muito mais prosaica e eficaz. Ofertam ao escrutínio público a versão hedonista de um consolo desde sempre conhecido das religiões: o consolo da imaginação, necessário para suportar a realidade; o auto-engano, para nos suportarmos a nós mesmos. Os novos evangelizadores do politicamente correcto dispõe assim de uma nova/velha arma: a ficção compensatória.
Numa operação bem urdida, muniu-se, em primeira linha, de uma canónica legitimidade moral, que ninguém pediu, mas que a todos impõe. Depois, vai coleccionando causas atrás de causas pour epater les bourgeois, devidamente artilhadas com soundbytes cirurgicamante dirigidos. A fase seguinte é mais delicada, incomparavelmente mais subtil: se antes criou um espaço, faltava avocar um tempo. De preferência um tempo imaginário e autofágico de que se julga a única intérprete qualificada, um tempo cuja idealização alucinada serve para justificar uma espécie de pedagogia revolucionária insuportavelmente paternalista.
É a tentação heurística no seu estado puro, mas sem a utopia como pano de fundo natural. Não! A construção é muito mais prosaica e eficaz. Ofertam ao escrutínio público a versão hedonista de um consolo desde sempre conhecido das religiões: o consolo da imaginação, necessário para suportar a realidade; o auto-engano, para nos suportarmos a nós mesmos. Os novos evangelizadores do politicamente correcto dispõe assim de uma nova/velha arma: a ficção compensatória.
Veja-se, por exemplo, o caso do Arrastão da praia de Carcavelos. Segundo testemunhos directos, apareceu realmente um grupo considerável de jovens negros que importunaram quem lá estava, com danos e furtos de permeio. Se, numa primeira fase, parece ter havido algum exagero da comunicação social e do relatório policial, os dados posteriormente apurados determinaram o que efectivamente se passou. Entretanto, com zelo militante, vem a jornalista Diana Andringa desmascar o que considerou ser uma "conspiração xenófoba". Os seus esforços foram recompensados com uma resolução da AACS, em que se passa uma reprimenda aos media que noticiaram os factos e onde se determinou a fonte da "conspiração": o alarme infundado dado pelo dono de um restaurante, naturalmente xenófobo, a que as direcções dos jornais, num irresistível impulso (adivinhem) xenófobo, deram cobertura. Perceberam?
O verdadeiro "contra-arrastão" veio depois: a tal esquerda prosélita desenvolveu uma autêntica operação de branqueamento da criminalidade. Específica, é certo, mas de criminalidade, mesmo que praticada por emigrantes negros da segunda geração. Há autênticos arrastões nos comboios suburbanos, inclusivamente registados em vídeo? Não, é tudo uma construção de mentes racistas, seguindo-se o piedoso argumentário do costume: é tudo uma questão "social", étnica, de integração, etc. Para ilustrar o que descrevo, atente-se a este exemplo. Obviamente, esta fábula já foi devidamente desmontada. Aqui
De qualquer modo, a imaginação delirante destes senhores vai decerto reservar-nos mais surpresas, justificando o injustificável e promovendo o catecismo dos novos interditos. Uma perspectiva inquietante, mas que se tornará risível numa sociedade que valorize mais as liberdades negativas do que a liberdade por catálogo. Entretanto, aguardo-os tranquilamente, como quem espera que batam à porta testemunhas de Jeová ou vendedores de enciclopédias. Mas esses, ao menos, sempre acreditam no que dizem, ou no que escondem.
O verdadeiro "contra-arrastão" veio depois: a tal esquerda prosélita desenvolveu uma autêntica operação de branqueamento da criminalidade. Específica, é certo, mas de criminalidade, mesmo que praticada por emigrantes negros da segunda geração. Há autênticos arrastões nos comboios suburbanos, inclusivamente registados em vídeo? Não, é tudo uma construção de mentes racistas, seguindo-se o piedoso argumentário do costume: é tudo uma questão "social", étnica, de integração, etc. Para ilustrar o que descrevo, atente-se a este exemplo. Obviamente, esta fábula já foi devidamente desmontada. Aqui
De qualquer modo, a imaginação delirante destes senhores vai decerto reservar-nos mais surpresas, justificando o injustificável e promovendo o catecismo dos novos interditos. Uma perspectiva inquietante, mas que se tornará risível numa sociedade que valorize mais as liberdades negativas do que a liberdade por catálogo. Entretanto, aguardo-os tranquilamente, como quem espera que batam à porta testemunhas de Jeová ou vendedores de enciclopédias. Mas esses, ao menos, sempre acreditam no que dizem, ou no que escondem.
Concordo parcialmente. Mas o Bloco de Esquerda faz falta neste país, com as suas características de força contestatária e fora do centrão dos interesses.
ResponderEliminarFaz falta, sim, mas sem demagogia.
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