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terça-feira, 2 de maio de 2006

O 1º de Maio

O Dia do Trabalhador é feriado nacional. Tirando esse facto, tornou-se o dia mais cinzento do ano. Veja-se o afã com que os sindicatos repetem de ano para ano, ad nauseum, o mesmo discurso catastrofista e atávico, uma fábula em que os bons e os maus só mudam de nome. Longe vão os tempos das lutas operárias a sério. Mas não é essa memória, nem a grandeza de tantos que nelas participaram, o que se comemora. Não! Até porque a classe operária começa a ser coisa do passado, desmantelada que está a indústria pesada e desaparecidas as grandes concentrações industriais.
A questão é, pois, ver quem fala mais alto contra os "perigos" que espreitam, os previlégios em risco, as "manobras obscuras" que estão prestes a abater-se sobre a "classe trabalhadora" e, sobretudo, o supremo instrumento do mal, o Código do Trabalho. Uma rétorica cheia de tropismos, destinada a assegurar a sobrevivência dos próprios sindicatos, em muitos casos estruturas pesadas e mais preocupadas com a visibilidade das acções que promovem, do que com uma defesa efectiva dos seus associados.
Duas notas, para terminar. Durante dois anos trabalhei intensivamente com o Código do Trabalho, na altura precisamente em que entrou em vigor. Para lá de algumas imprecisões técnico-jurídicas, parece-me ser um óptimo instrumento de desenvolvimento económico, com mecanismos onde certos direitos dos trabalhadores são, até, melhor salvaguardados, para lá das inegáveis vantagens da sistematização.
Por outro lado, durante esse período, estive em contacto directo com o mundo do trabalho, no sector informativo de um serviço público. Posso dizer que, em relação aos trabalhadores, numa percentagem de 80% daqueles que atendi, a sua única preocupação era "fazer contas". Os seus "direitos" resumiam-se a isso: um resultado expresso numa máquina de calcular.

2 comentários:

  1. Gil!

    Não perdeste a veia de speaker! Ainda me recordo de te ver a discursar numa manif. contra o massacre de Tianamen, nos Restauradores, com uma faixa branca na cabeça inscrita em chinês...

    beijos

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