ao som do alaúde desperto na água tranquila
dos cristais,
assim o dia se estende pela lentidão do ar
que atravessa os muros,
pelas mãos que se despem na neve
- únicos deuses conhecidos
assim o mais leve, o mais límpido rumor
de setembro,
um nome de sangue esquecido nas navalhas,
a respiração das pedras.
como desenhar um bosque de chuva
numa parede de ninguém?
como desenhar um rosto, o meu rosto,
só pelo tempo de os lábios
tecerem o musgo
e as searas fustigarem o leito da luz?
assim um dia meus olhos serão maiores
assim as laranjas se espremem
como seios de rainha
assim a noite se afunda
na palpitação do fogo
O que fazer do meu rosto
- perguntarás-
podia falar-te do mistério dos corvos
em fuga,
quando o gesto das asas parece lembrar
a inquietação desses náufragos
algures entre o sol e o barro.
desvendo antes o segredo
onde eu nascia e somava na pele
os séculos, as frias moradas
daqueles países da ausência,
o incessante respirar,
o retomar do canto.
para vós plantei a aldeia e o trevo,
o talhão de rosas
que arredonda os gestos e os sonhos:
em cada pétala
há um rosto
do teu rosto.
In "Labirintos"
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