Reflexões, notas, impressões, apontamentos, comentários, indicações, desabafos, interrogações, controvérsias, flatulências, curiosidades, citações, viagens, memórias, notícias, perdições, esboços, experimentações, pesquisas, excitações, silêncios.

sábado, 11 de novembro de 2006

Crimes exemplares - 11

Why didn't you call on me, why didn't you call?

É quando dizemos NÃO e ninguém aparece que tudo está certo. É quando não temos razão que temos razão. É quando um horizonte de facas nos paralisa, que aprendemos a não ser empurrados pelo medo. É quando os lugares onde gritamos pelos lugares onde podemos gritar são nossos e não esperamos que alguém venha para nos dizer que são nossos. É quando de repente estamos lá, quase lá, ansiamos pela chegada e só ainda partimos. É quando na partida não há ninguém de quem nos despedirmos, e o mundo nos espera. É quando as flores, todas as flores que um dia espalhámos pela cidade, como o estandarte de um novo tempo, como letras abertas pela neve dentro, acabaram nos nossos braços vazios. É quando de repente olhamos para o lado e a aprovação e os acenos dos outros já lá não estão, mas continuamos a avançar, nus, diante da noite. É quando percebemos que para esses outros só existimos enquanto durar a sua falta de imaginação. É quando à volta só descobrimos ruínas e sonhos perdidos onde tropeçar. É quando não queremos morrer antes da última canção. É exactamente aí. Estará lá uma corda estendida. Um sorriso para percorrermos demoradamente. O truque. E só nós saberemos.

Ver anterior

1 comentário: