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sexta-feira, 10 de novembro de 2006

Imagens de Marte - 1

Arabia dunes (3D)
Fonte: NASA

9 comentários:

  1. Sobre a questão do aborto, se há coisa que não suporto é demagogia barata. Sobretudo meter fotografias de criancinhas a caucionar posições de uma verdadeira insensibilidade perante a...vida. Espero que o beatério dos pró-vida continue na senda deste primarismo, pois assim a vitória do bom-senso será folgada. O comentário que lá deixei diz o seguinte:

    "Este post dá a ideia de ter sido encomendado por aquele padre que há uns anos andava a mostrar fotografias de fetos pelos paroquianos. Tendo a ciência estabelecido a diferença entre feto e embrião, conhecendo-se as condições deploráveis em que as mulheres com menos recursos abortam, conhecendo-se a hipocrisia dos defensores pró-vida (no fundo querem mais carne pra canhão a trabalhar nas suas fábricas) alinhando com a posições proibicionistas da igreja em relação a métodos anticoncepcionais e nada fazendo para acolher e apoiar as crianças que nascem sem futuro, toda esta argumentação cheira a velas, sacristia e Opus Dei."
    A partir de agora, com esta rapaziada, tolerância zero. Basta de hipocrisia!

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  2. Gil,

    Olha que a argumentação do jovem autor do Blogue Bar Velho, até nem está mal, conforme o diz um dos comentários, vindo de um indivíduo que não é "pró-vida". Estas questões são delicadas e devem ser tratadas com boa-vontade. Estás sempre a falar em Tolerância mas utilizas sempre a expressão" Tolerância Zero". Por este caminho, o teu "partido" vai mais uma vez perder o referendo. E, valha-me Zeus, comparar os pró-Vida a gente que o que quer é mais "carne-para-canhão para trabalharem nas suas fábricas" numa questão que se reconhece ser muito do foro íntimo de cada um, tratando-os todos por hipócritas, cheira -- como tu me disseste uma vez num dos blogues em que eu escrevia -- a Inquisição e Jacobinismo...

    André

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  3. André:

    Acho curioso estarmos a falar sobre certos temas numa postagem com uma fotografia de Marte.
    Ao contrário do que dizes, pretender que o aborto seja feito em condições dignas e sem qualquer estigma de ordem penal para as mulheres, é uma questão puramente civilizacional. Trata-se de devolver a transparência onde só existem águas turvas. Vamos deixar a moral de fora. Podemos esgrimir centenas de argumentos a favor ou contra, mas nada irá mudar aquilo que é sobretudo, uma questão ÉTICA: respeito pela vida no seu todo e não só ao nascimento, como defendem os que querem continuar a meter as mulheres na cadeia por abortarem.
    Por outro lado, a referência à mão-de-obra barata não é tão descabida
    como parece. Há questões demográficas associadas à penalização do aborto que não são de desprezar. Lembremo-nos da época vitoriana e da triunfante revolução industrial em Inglaterra. Feita, em grande medida, graças à mão-de-obra infantil, legiões de crianças abandonadas à sua sorte.
    Outra coisa que me faz imensa confusão é ver jovens como o do bar velho com um pensamento tão atávico.
    O sim vai triunfar, graças ao primarismo e à escassez de argumentos dos defensores do não.Vamos ter novamente o Portugal salazarento e o Portugal moderno a confrontarem-se.É óbvio que, relativamente a este assunto, as pessoas já abriram os olhos
    Quanto a Inquisição e Jacobinismo, não é algo que se gaste nesta casa.

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  4. Gil,

    Não, não...a polémica calhou nas Arabia Dunes, de Marte, porque fomos lá parar, com esta comichão que nos fazem os "árabes". Eu acho que toda a gente quer dar uma opinião e agora há a Internet, mas tudo isto é político e eu tenho pouco jeito para Política. Sei que a Igreja Católica oficialmente, não assegura que a Vida começa com o óvulo, mas diz que há fortes hipóteses científicas de começar e, por isso, chama ao voto de consciência, por respeito a este ainda mistério. A Igreja invoca sempre outras razões para os opositores da legalização do Aborto que não são cristãs, inclusive as pré-cristãs, nas quais me revejo.Acho que a questão vai ficar muito pulhítica, porque cada um reagirá emocionalmente, entre a perspectiva da Vida que tu vês, em que as Mulheres grávidas são relevadas e a daqueles que vêem a vida independente como um bem a defender. No fundo ambos querem proteger a Vida mas uns relevam a vida no seu aspecto social, outros no seu aspecto biológico. E o que é social e o que é biológico variam também com a a Filosofia da Ciência que é uma difícil especialidade universitária mas também uma moda de época. Cada vez estou mais convencido que certas palavras falam por nós, que certos mitos nos dominam, mas sempre haverá algum mito no modo como encaramos a Realidade. Somos seres da Imaginação e do Espírito. Acho que a questão podia ser resolvida com aquilo que se chama hoje Excepção de Punibilidade, Persecutibilidade ou até de Imputabilidade, sem fazer depender o conceito de Crime dumla maioria política ou de uma moda. Infelizmente a Lei está a perder o valor sacrossanto que tinha, até a nível internacional, o Direito ( que não é a Lei) está a ser exagerado por uma certa mania e auto-convencimento, sendo que definir um Crime num Mundo em que os ideais republicanos da Lei estão tão corruptos ( a crítica da Democracia é muito antiga) é hoje muito relativo. Nos EUA, dois em cada três assassínios são arquivados por falta de provas o que diz estatisticamente que, na maior Democracia do Mundo, temos boas hipóteses de tirar a vida a alguém, sem ser punidos. Na Guerra moderna discute-se muito o direito/dever à protecção e os efeitos colaterais. A Eutanásia está a ser discutida e o Sexo com menores também. Enfim, tenho pena que a evolução do Ocidente e da Civilização em geral tenha reaberto questões que se julgavam ultrapassadas e sobre as quais assentava o consenso colectivo para resolver novas questões. Olho para o jovem que escreve o blog, o qual diz vários disparates noutros assuntos e se vê ser ambicioso e, no fundo, estranho-o porque ainda me julgo jovem. Ele argumenta como quem pode ainda decidir, esquecendo-se do drama de quem não pode já decidir ter um filho ou não.É este o mal da Política, da Democracia e da Internet: cada um fala como se fosse soberano. Quero com isto dizer que se nao deve encarar o referendo? Por razões que não são chamadas para aqui, haverá amanhã um referendo sobre se devemos ou não ser espanhóis, sobre se devemos ou não ser independentes energeticamente adoptando a Energia nuclear e outras coisas que espelharão limpidamente a vontade e os conhecimentos da época. Sei que o Sócrates disse que só aprovará se o Sim vencer no Referendo, independentemente do número de gente que votar nele e sei que, se o Não vencer, seremos dos poucos países da Europa onde ainda será crime. Acho que todos os casos são excepcionais e estamos sempre a aprender. Posso estar enganado, mas neste aspecto, Portugal que até tem pouca vida Religiosa ( medida pela ida à Igreja esta é muito menor que os EUA ou a Irlanda, para não falar na Polónia e, agora, a Rússia) e lhe falta afirmação nacional, é capaz, mais uma vez, de vir votar não. Sabes porquê? Porque o Portugal pré-cristão foi o primeiro país Neolítico de toda a Europa, a ligação ao Mar fê-lo respeitar o Nevoeiro conceptual e esperar. Não penso que Portugal seja assim tão flexível como disse Michael Porter e os Economistas de Harvard. Portugal está grávido há muitos milénios (como o provou o seu papel pioneiro nos Descobrimentos) em segredo.Se pode e sabe manter o segredo, por que iria, então, Portugal abortar?

    André

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  6. André:

    Gostei do teu último comentário, que veio enriquecer em muito este espaço. O brilhantismo que evidencia é o mesmo que há muito me habituei a reconhecer em ti. Todavia, em última análise,vais-me desculpar, mas os argumentos utilizados destinam-se a justificar o status quo. Que é injusto, indigno para as mulheres, acentua as desigualdades sociais, promove a infelicidade.Bem estaríamos se uma questão tão imediata e decisiva como esta se relegasse para um fundo meta-histórico. Embora naturalmente se perceba porque é que as religiões patriarcais se opõem ao aborto: é porque é inconcebível para elas que a mulher possa dispor do seu corpo como muito bem entender e não ter o útero ao serviço de um imperativo divino. Este é um assunto que tem a ver com a dignidade e o bem-estar, com a saúde pública. Despenalizar o aborto não obriga ninguém a abortar. Simplesmente cria condições para que as mulheres que assim decidam, dentro do período definido por lei, o possam fazer em segurança e sem medo.
    Quanto à eutanásia, concordo plenamente que possa existir. Não é o Estado ou a religião oficial que tem o direito de se intrometer no meu corpo ou na minha morte.É nestas coisas, como no primado da arte como verdadeiro espaço de liberdade, que falar em esquerda e direita ainda faz sentido.

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  7. Gil,

    Começo pelo fim e digo desde já que tenho medo que estejamos a comer por inteiro os nomes que o Poder dá às coisas e as coisas que o Poder dá aos nomes ( sim, o Poder, que como dizia o bom bispo de Setúbal, todos os poderes são ilegítimos). Eutanásia não quer dizer suicídio assistido, coisa antiga por exemplo no Japão Samurai. Quer dizer, sobretudo, morte ou cessação da Vida decidida pelo Estado, pela família ou -- como já existe em Portugal -- pela Ética médica quando, nas urgências, entre uma máquina para um velho ou para um novo, é o novo o contemplado. Não preciso ver os Documentários sobre o nazismo e sobre o outro Holocausto (6 milhões de oposicionistas "arianos", de doentes físicos ou psíquicos, de ciganos e vagabundos, de prêtos prisioneiros, das Forças francesas e de homossexuais) para saber o que isso quer dizer. Basta-me passear pela sociedade capitalista na fase do pânico, dita do Blair ou da Terceira Via.
    Mas não é por acaso que, quem não franze o sobrôlho à Eutanásia (quando a Igreja até a certos suicidas faz enterro cristão) geralmente concorda com o Direito à Interrupção Voluntária da Gravidez, além de casos excepcionais desculpáveis. As Religiões ditas "Patriarcais" (definiçao dos anos trinta, de um nazi chamado Mircea Eliade) nascem de facto do caso de Abraão, como fôra o de Apolo e da proibiçãos dos sacrifícios de sangue. Não funciona com a Religião "filial ou fraternal" dum Deus que dá o seu Fillho o qual Se torna irmão pelo Espírito Santo, como diz a Escola do Carpinteiro. Para esta, o Perdão existe mas depois do Valor, observado até ao martírio, seja ele vermelho ou branco. A Felicidade, se todos soubéssemos o que era, até essa Categoria "Indivíduo", intraduzível por exemplo na Língua mais falada do Mundo,é coisa que se não sabe. Se se soubesse, era questão arrumada. Como não é, vaga é a respectiva área onde se combinam elementos subjectivos, intersubjectivos e transcendentais. Alguns deles vêm do "social" onde (estás muito enganado), certas diferenças e desigualdades, além de naturais, legítimas e desejáveis, são garantia de Liberdade. Mas é claro que o panorama actual erige a "Felicidade" da moda como Direito e Dever, como meta e até imposição social. Deste conceito de Felicidade faz parte um Amor físico, imprevisível em que os dados são deliberadamente ocultados em parte ou afastados do Consciente decisor. Claro que isso se traduz em muitas gravidezes inconvenientes em que o Direito à Interrupção Voluntária da Gravidez passa a fazer parte da gestão das consequências, dada a um indivíduo não inteiramente livre porque já tem uma Vida dentro e o relógio não pára. Esta gestão do indivíduo enrascado, quando é erigido em questão política,é falseado como "Direito à Liberdade" porque não se providenciaram os meios da Liberdade, quanto aos métodos contraceptivos ou de planeamento familiar que falharam entretanto. E é falsa duas vezes, porque a questão individual não pode ser referendada politicamente -- o Direito, só num regime sanguinário e jacobino como é o da moderna Democracia, é que se reduz à Lei.
    Não penses por isso que sou a favor dos métodos contraceptivos nos pubs e nos cafés: o único que funciona é o do indivíduo poder criar a sua própria História, coisa que eu sou o primeiro a admitir como difícil, devido à violência dos estímulos sexuais públicos como que a Tirania democrática nos entorpece para longe de decisõs épicas e revolucionárias nas nossas Vidas. De novo te digo que os países fundamentalistas islâmicos têm Índices independentes de Sida muito baixos e que, em VÁRIOS CASOS DA Africa negra, com a distribuição de profiláticos, crescem os "acidentes" e os "casos" de não-uso.
    Dizes-me que há que abater os casos elevados de aborto clandestino. Pois eu digo-te que se aumente o planeamento familiar, que se dê condições dignas às pessoas para fazerem a sua História pessoal, como é o caso de manter Maternidades em regiões despovoadas, para que as pessoas se sintam confortadas em aí viverem e para irem para lá, incicarem uma vida nova. Que se dêem às pessoas condições para viverem tomando decisões em que o relógio não está sempre a cair. O resto, que se resolva, como te disse, como as categorias penais de inimputabilidade, estado de necessidade desculpante, conflito de deveres, amnistia, indulto, etc.
    E agora concentro os argumentos:
    Sim, nem o útero, nem o pénis, nem os lábios e os dedos, são inteiramente meus. Nem o sagrado chão de Portugal é inteiramente meu, nem a minha Terra e o meu Sol. E, sim senhor, o óvulo fecundado é aquilo que mais podemos conhecer como Vida, esteja dentro dum útero, ou dentro duma proveta. Portanto, o valor em causa é a Vida e, para salvar uma Vida, há direito à Legítima Defesa de Terceiro. Um pastor coerente Americano foi condenado à morte porque matou um médico campeão em abortos, mas grupos anarquistas, que reconheciam o Direito ao Aborto tiveram seus militantes quase na mesma situação porque atentaram contra clínicas que acusavam de fazerem negócio à conta dum direito eminentemente da consciência individual.
    A felicidade não é uma questão definida, não pode ser entregue apenas ao dito "indivíduo", nem à dita "sociedade". E, seja lá o que fôr, a Felicidade assenta sobre coisas que lhe pré-existem como o caminho que a Vida segue para aparecer. Podemos mudar este caminho pela Ciência, mas cada sociedade produz a Ciência que quer, depois de confltios e acordos sociais, sempre em evolução. Se a condenação à morte de várias vidas indefesas, ou a gestão do tempo que os velhos, os doentes e os infelizes, continuarão a mamar os dinheiros públicos é uma forma legítima de gerir a felicidade de muitos, não sei. Mas não entrego uma questão tão iumportante, nem o grau da sua importânica a uma consulta eleitoral em que os fetos não votam, nem os antepassados que morreram para que nós existíssemos, quando as nossas vidas imanentes e subjectivas eram apenas transcendentes ideiais, nos olhos deles. Volto a repetir, com jOSÉ rÉGIO, com esse símbolo dum direito pré-cristão a realizar a missão que nos rebenta dos genes e que os sombrios chamarão autoritarismo ( "o meu facho a arder na noite escura"): sei que não vou por aí.
    O sexo com menores é relativo, no filme Lolita e no Equador mas mais relativo que o Sexo é a minha aspiração ao amor entre um Homem e uma mULHER. Porque nasci ser humano, mas masculino e porque nasci virado para um rio que corre num sentido, como podia nascer virado para uma serra que amanhece para uma ldo, sinto-me no direito de dizer: mulheres, aguentem-se nas pernas, sejam as irmãs e as mães que sustentam metade do céu.
    Ficas a saber, sobre essa palhaçada burguesa chamada direita e esquerda, que o Aborto foi legalizado pela primeira vez, na Rússia bolchevista e no Japão ditatorial. E que o maior número de infanticídios surge nos países onde o Aborto é um direito e um dever, porque o aborto não basta para reprimir a vida dentro das pessoas.
    Sim, o aborto não era conhecido dos antigos, dos pagãos, mas matar a mãe com o filho no ventre, os bárbaros sabiam bem.
    Em suma: a Vida é uma coisa muito séria, seja um gato recém-nascido, ou um insecto na mão. Deixa a môsca viver, ela foi criada para te despertar...

    André

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  9. Desculpem a intromissão, mas depois de ver estas imagens dá vontade de "emigrar" para Marte...

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