Reflexões, notas, impressões, apontamentos, comentários, indicações, desabafos, interrogações, controvérsias, flatulências, curiosidades, citações, viagens, memórias, notícias, perdições, esboços, experimentações, pesquisas, excitações, silêncios.

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Matemática

Hoje faz-se greve na Função Pública. A adesão está algures entre os 20% anunciados pelo Governo e os 80% propalados pela CGTP. Uns e outros a fazerem continhas à vida. De resto, o recurso a greves claramente políticas só ajuda a descredibilizar os sindicatos e a vulgarizar este meio de luta. De qualquer forma, lembrei-me da ocorrência por uma razão: o número excepcionalmente baixo de visitantes hoje entrados neste blogue.

O Dia D

Hoje decorre a assembleia-geral eleitoral na Ordem dos Advogados. No final do dia, saber-se-á quem será o próximo Bastonário e qual a composição dos órgãos dirigentes. Na prática, esta sessão é mais escrutinadora do que eleitoral, pois a maioria dos advogados já terá votado por correspondência, sendo que o voto presencial terá alguma expressão sobretudo nas secções eleitorais de Lisboa e Porto. Ora, tenho acompanhado com relativo distanciamento a campanha eleitoral. Pelo que tenho recebido por email e pelas declarações dos candidatos, as suas propostas são convergentes no essencial. Mas aproximando-se o ponto de focagem, percebe-se que o estilo, o percurso e a base representativa de cada um é profundamente diferente. Garcia Pereira é o candidato "sempre em pé", cuja credibilidade se impõe mais pela tradição do que pela convicção. Magalhães e Silva e Menezes Leitão representam o status quo, a subserviência face aos grandes escritórios de Lisboa e Porto, autênticos hipermercados da advocacia. O único que me chamou a atenção foi António Marinho Pinto. Já tinha acompanhado com interesse a sua campanha nas eleições anteriores. E agora tive o prazer de o conhecer numa pequena sessão-debate nas instalações da delegação local da O.A. A sua acutilância, clarividência e frontalidade, bem como o seu percurso como cidadão e como profissional, foram elementos determinantes na minha escolha. Acredito que se Marinho Pinto triunfar, como as sondagens indicam, escrever-se-á uma nova página na advocacia em Portugal.

Post scriptum: o astrólogo Martelo lá fez o frete ao seu amigo Magalhães, identificando M. P. como o porta-voz dos "perigosos descamisados". Para o Professor,
este ano foi para esquecer, em matéria de profecias.

A Incerteza

Blow up - História de um Fotógrafo (1966, 111 mins)

Realização: Michelangelo Antonioni; Produção Bridge Films/MGM; Argumento: M. Antonioni e Tonino Guerra,
a partir do conto
Las Babas del Diablo, de Julio Cortázar; Música: Herbie Hancock; Com David Hemmings,
Sarah Miles, Vanessa Redgrave, Peter Bowles, John Castle, Jane Birkin e o grupo The Yardbirds.

O Cineclube da Guarda apresentou ontem, no Auditório do IPJ, um dos filmes míticos de Antonioni. A Swinging London dos meados de 60 seria o último local expectável para uma obra sobre a natureza da imagem fotográfica ou da percepção visual. Todavia, o realizador italiano escolheu Londres - cujo estilo de época foi definido em grande parte pela animação de Carnaby Street - como o local mais apropriado para um filme que poria para sempre em questão a certeza do olhar e da memória. Ao mesmo tempo que retratou, com distanciamento q.b., a pose nonchalance normalmente associada àquela década. É ponto assente que Blow up é um filme cujo impacto se prolongou até hoje. E não só pela ousadia de algumas sequências. O realizador parece ter levado à letra o célebre Princípio da Incerteza, de Heisenberg, segundo o qual todo o acontecimento observado é alterado pela simples presença do observador. Se houvesse uma ideia central, uma matriz, em Blow Up, seria esta: a observação não é nunca um processo neutro ou abstracto, pelo que nenhum fenómeno é intrinsecamente puro. Especialmente quando as emoções são chamadas a intervir, como a culpa, a obsessão, ou o medo.
O filme apresenta-nos o mundo da moda londrina da altura, centrado num fotógrafo de topo, Thomas, (David Hemmings). Numa época em que a associação fotógrafo/modelo se tornou um motivo de culto, associado à pop art a à cultura de massas. Não é por nada que a estilização cruel e a ambiência jazzy de determinados planos evoca La Dolce Vita (1960), de Fellini. Numa das suas deambulações fotográficas, Thomas regista algumas imagens de um casal de namorados, num parque londrino. Entretanto, através da manipulação das fotografias, apercebe-se que, de facto, teria fotografado um assassínio. O significado do título (ampliação fotográfica) torna-se claro, à medida que Thomas repetidamente aumenta, examina e retoca os negativos, até obter as provas do hipotético crime. Evidências que se tornam, à medida que cresce a sua obsessão, cada vez mais obscuras. Ao contrário de um thriller convencional, o filme não oferece uma solução confortável ou apropriada. A suprema ambiguidade da sequência final, junto ao campo de ténis, já faz parte da história do cinema. O espectador nunca saberá, nem Thomas o poderá afirmar, se realmente houve um crime, ou se tudo não foi o produto febril de um tempo, numa grande cidade. Talvez seja mesmo a opção aqui reiterada de Antonioni pela narrativa aberta o que torna este filme tão resistente ao tempo. E porque em nenhum outro provavelmente captou com tal mestria a estranheza no coração da própria realidade.

Local de embarque


Wosene Kosrof, fishing for words, (litografia offset), 2005

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Conversas prá braguilha - 1

- O que perguntas exactamente?
- Não sei…é algo que se situa além das palavras…
- Ao alcance dos gestos…mas são precisamente os gestos que estão fora do meu alcance…
- Isso diz tudo sobre nós…
- Realmente pensas isso?
- Não, sabes que não.
- Eu sei que deveria jurar-te que posso encher de realidade os sonhos, mas não posso.
- Eu sei…
- Devia dizer que quero que sejas feliz…que por isso me afasto…mas esta conversa desmentiria isso…
- E o que queres?
- Um sonho impossível
- Pára de falar assim…

Bloxe

Para além de uma função comunicacional, mais óbvia, os blogues desempenham uma outra, mais subterrânea, menos propagandeada: são uns excelentes sacos de boxe. Há muita gente a zangar-se nos respectivos blogues, em sincronia ou isoladamente. Mas não entre si. Bom, às vezes também, mas normalmente sem consequências, a não ser no apuro dos respectivos recursos semânticos. Bom bom são os sacos de pancada mais à mão. Por exemplo, o Hugo Chavez. O merdas é um cretino em toda a linha. Mas para quê perder tempo com fascínoras? É dar-lhe cabo do sebo ou metê-lo num hospício, restaurar a democracia no país dele e pronto. Assim sobrava tempo para se falar em coisas importantes: o pré-romantismo do "Sturm und Drang", a cinematografia de Alain Tanner, ou a obra de Albert Cossery, por exemplo. Atentos ao fenómeno de concorrência desleal, os psiquiatras continuariam a fazer a mesma pergunta sacramental: "afinal, onde meteu o/a senhor/a a zanga"? E alguns, mais zangados, responderiam: "olhe, vá você", ou "meta-a você", ou, melhor ainda, "meta-a num sítio que eu cá sei, mas não digo agora, pois logo à noite vou escarrapachá-lo no blogue"...

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Visões - 2


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Notícias da blogosfera

Victor Afonso acaba de iniciar (adoro estes trocadilhos semânticos) o seu blogue, intitulado "O Homem que Sabia Demasiado". Trata-se de um espaço claramente pessoal, onde são divulgadas as afinidades electivas do autor, no domínio do cinema e da música. Como já esperava, a informação é transmitida de forma clara e esclarecida. Como que a atenuar a simples "parcialidade" do gosto. Em resumo, uma boa notícia para os cinéfilos e melómanos e um sinal mais na blogosfera guardense.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Tempus fugit

Hoje é feriado cá pelo burgo guardense. Uma maçada. Como fugir então às efemérides, à urticária inaugurativa, às pevides laureantes e às famílias a pachear as crianxinhas? Conselho de amigo, comprovado hoje mesmo: dar uma escapada até Salamanca. Sim, uma pequena viagem no tempo. Respirar algum ar civilizador. Entrar na Livraria Cervantes e ficar por lá umas horas. Ir até ao Café Corral e beber uma orchata. Ou duas. E folhear o "Bushido, el Código Ético del Samurai y el Alma del Japón" de Inazo Nitobe, uma excelente reedição comemorativa do centenário da obra, que acabei de encontrar numa estante obscura, à minha espera! Bingo! Ora bem. Dito e feito. Qual Prozac qual quê! Entretanto, à noite, toca a rumar em direcção ao TMG. Para assistir à estreia absoluta de "O Cancioneiro de Estevam da Guarda", pelo grupo La Batalla, sob a direcção de Pedro Caldeira Cabral. Ver aqui mais informações sobre a obra e o espectáculo.

Alta plana


Recordo com orgulho os dias gloriosos, mas nem por isso deixo passar em silêncio as recordações de um assombroso despertar das pedras, a sua fugaz alegria exuberante, a sua plenitude indomável, que, ao serem recordadas, me faziam chegar as lágrimas aos olhos, contagiado por esta piedosa grandeza do granito, pelo silencioso regresso dos que em tumulto um dia partiram, como crianças estendendo as mãos ao acaso, quando a luz se lhes dirige do interior dos olhos para o mundo, aqui imaginamos sempre poder voar, é mais fácil, mas depois da festa convocada, é-nos mais precioso o salto desastrado do que a segurança ao longo do caminho já traçado, não, aqui a terra avara não nos deixa ficar demoradamente sentados à janela, invadidos por uma alegria serena, à espera que a vida inteira se desbobine do fuso em fios dourados, esse brilho é para outras latitudes, às vezes certificamo-nos no espelho de que o nosso encontro com a cidade não foi uma ilusão, pois à medida que a montanha nos aproxima do mistério e da poeira oculta, também nos ensina esta espécie de envergonhada virtude dadivosa em que nos recolhemos, do outro lado, agitando as suas penas, a cidade, demasiado púdica para instrumentar a sua memória com versos obscenos, aqui o arado da gleba ainda revolve a nossa memória, povoando-a de sombras, vagas e cinzentas, é altura do cortejo das máscaras, os homens figurando como aves e as mulheres envergando trajos de eras passadas, os bobos pulando na árvore dos loucos, as flautas esguias, as cítaras sibilantes das corujas das torres, os rabecões bramadores dos galos silvestres e, no dia seguinte, como um segredo pelos séculos guardado, o jardim emergir dos cristais, das profundeza da terra impiedosa, em estreitos socalcos, a cidade começar a sorrir, colocar de mansinho a mão sobre a minha boca, tão suavemente que, no silêncio envolvente, só conseguirei distinguir a respiração que se insinua por entre os meus dedos…

Texto publicado no jornal O Interior, em 27 de Novembro de 2003, no suplemento “Guarda, 804 anos”

domingo, 25 de novembro de 2007

Grão a grão...


Os números são enganadores, para uma vitória sofrida, mas justa, esta noite em Coimbra. Oportunidade para rejubilar com o primeiro golo de Rui Costa na Liga: um remate indefensável, na marcação de um livre. Notas: percebeu-se também a falta que faz Rodriguez à equipa; como se esperava, regressaram Petit e David Luís, afirmando-se o último como o defensor em melhor forma neste momento na equipa; o insólito golo de calcanhar de Luisão; a impressionante eficiência de Adu, que marcou novamente ao cair do pano. Em resumo, uma vitória importantíssima e que veio moralizar o conjunto para o grande jogo da próxima jornada, na Luz, com o FCP.

sábado, 24 de novembro de 2007

Momentos Zen - 28

Não podes alcançá-lo pondo-te a pensar, não podes demandá-lo sem te pores a pensar

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Castelos da Guarda - 5

Torre de Menagem, Guarda

Torre Medieval e Fonte Ameada, Aguiar da Beira

Forte de Almeida
Fonte: Governo Civil
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Esteve quase

Soube há pouco a notícia. Por motivos imprevistos, a estreia do espectáculo "Eu queria encontrar aqui ainda a terra", que deveria acontecer na quarta-feira, no Pequeno Auditório do TMG, foi adiada para 16 de Janeiro.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Importa-se de repetir?

"Cada pessoa que morre na estrada é menos uma vida humana..."

Maria do Carmo Borges, Governadora Civil da Guarda, à saída de uma reunião da Comissão Especializada de Prevenção e Segurança Rodoviária do Conselho Coordenador do Distrito .

Chega de Scolari



Este jogo foi há sete anos. Numa altura em que tínhamos uma selecção que realmente jogava futebol. Comandada pelo melhor seleccionador que a equipa teve nas últimas três décadas: Humberto Coelho. Um homem tranquilo (lá estou eu com a literatura). Que não agredia os adversários, não se irritava com os jornalistas e com os dirigentes desportivos, não era arrogante e malcriado, não convidava todos os jogadores da sua terra natal para jogar no grupo, não disfarçava a incompetência com uma obstinação desmedida. Em suma, um conhecedor do futebol, um
gentleman e um verdadeiro líder. Nessa altura, a equipa conseguiu dar a volta a um resultado negativo a duas bolas com os ingleses. Alguém no seu perfeito juízo acredita que, depois de ver o penoso jogo contra os finlandeses, o conseguisse fazer agora? Vem depressa, Mourinho.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Visões - 1


O João Ratão

O Ministério da Educação contratou por duas vezes o advogado João Pedroso para fazer o mesmo trabalho. No "período experimental" recebia 1 500 Euros/mês e nada apresentou em contrapartida. Na segunda fase, a "coisa" ficou pelos 20 000 Euros/mês. O Ministério diz que houve um "erro de avaliação". Enfim, são as delícias do poder rosa. Ver aqui a notícia completa.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Eu queria encontrar aqui ainda a terra

Foto: Tiago Rodrigues

É já no próximo dia 28 que estreia a nova peça do Projéc~, uma produção do TMG para a Câmara Municipal da Guarda e Centro de Estudos Ibéricos. Trata-se do quinto trabalho da estrutura de produção teatral daquela instituição. O espectáculo é baseado no texto homónimo de manuel a.domingos e deste vosso criado. O qual procura situar vários encontros, intensos, irónicos e por vezes desconcertantes: da memória recente da cidade com dois passageiros ilustres: Eduardo Lourenço e Vergílio Ferreira; de duas gárgulas de granito que são o mesmo e o diferente, a matéria e o espírito; de duas personagens num ambiente exótico, cujas perguntas são maiores do que as respostas e estas provêm do inesperado. Encenação, dramaturgia, cenografia e figurinos de Luciano Amarelo. A interpretação está a cargo de Paulo Calatré e Pedro Frias. Em cena no Pequeno Auditório do TMG até 30 de Novembro.

Fumo branco

Deixei de fumar há seis meses. Há quem já esteja há vinte nessa abstinência. O Pedro Rolo Duarte, por exemplo. Tal como ele, abdiquei dessa medalha póstuma para exibir ao espelho, e que diz: "ex-fumador", preferindo ser "um fumador que decidiu não fumar mais". Foi duro, claro. As rotinas tiranizam mais do que os vícios. Sem estes ficamos paralisados. Mas sem as primeiras ficamos despidos. Entre um e outro, "que venha a Inquisição Espanhola", como bradavam os Monthy Python. Claro que as vantagens foram aparecendo: menos cansaço, exercício físico mais extenso, melhor paladar, ritmo cardíaco normalizado, desaparecimento gradual daquele catarro neo-realista matinal (que não raras vezes ainda dá sinal de si), maior tranquilidade nas situações que antes eram interrompidas para o cigarrito, maior disponibilidade para os outros, mais dinamismo. Por outro lado, dou a mão à palmatória e aceito a justeza de uma legislação que restrinja o consumo do tabaco em locais públicos, de forma sensata e sem exageros. Só quem deixa de fumar entende como a percepção do fumo que nos cerca se torna diferente. E isso nada tem a ver com intolerância. Nos restaurantes, os níveis ainda se suportam. Mas nos locais nocturnos é que a coisa se torna complicada. Quando uma noite se prolonga mais um bocado, fico literalmente à mercê do fumo. Daquele que provem dos que me acompanham e de todos os outros fumadores que já passaram pelo local em causa. Isto porque a maioria dos bares ainda não dispõe de um sistema de exaustão eficaz. Ou, então, já tem, mas os proprietários preferem fazer umas poupançazinhas na conta da electricidade. E, neste lote, incluo desde os bares mais humildes até aos sítios de referência. Um deles, que me dispenso de nomear, é o novo ponto de encontro da cidade. Pois há noites em que a ambiência se torna londrina e os sinais permanecem por dois dias nos brônquios. Mas vou poupar os leitores às atribulações de um "antigo combatente". Não sem apontar as incongruências do legislador. É que, por um lado, já pouco falta para a nova "lei seca" entrar em vigor. O que inclui um pacote sancionatório para os prevaricadores. Por outro, a incidência fiscal sobre o tabaco tende a aumentar. Não se compreende, portanto, como os produtos farmacêuticos que auxiliam os que querem deixar o tabaco não são comparticipados pelo Estado. Esta situação já foi denunciada pela Sociedade Portuguesa de Pneumologia e muitas outras vozes já se ergueram contra este anacronismo, que urge rever. Sabendo-se que estes produtos pesam e de que maneira na bolsa dos consumidores. Apareceu agora um medicamento anti-tabágico de nova geração, chamado Champix. Associado a uma campanha publicitária semi-oculta, protagonizada pelo Diogo Infante. Sem pôr em causa a sua eficácia terapêutica, convido os leitores a ir à página respectiva. Vejam os preços praticados e a lista de efeitos colaterais. Até dá vontade de puxar mais um cigarro para acalmar...

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Stalker




Praia do Alvolião/Zambujeira, Julho de 2007

O rosto

o certo
é que por vezes morremos magros até ao osso
sem amparo e sem deus
apenas um rosto muito belo surge etéreo
na vasta insónia que nos isolou do mundo
e sorri
dizendo que nos amou algumas vezes
mas não é o rosto de deus
nem o teu nem aquele outro
que durante anos permaneceu ausente
e o tempo revelou não ser o meu

Al Berto, O Medo

Graffitis - 24


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A minha patria é a lingua portuguesa

Portugal vai pedir um prazo de dez anos para a entrada em vigor do novo Acordo Ortográfico, que unifica a escrita da Língua Portuguesa, anunciou há dias a ministra da Cultura. Questionada no Parlamento durante a apresentação do orçamento da Cultura para 2008, Isabel Pires de Lima disse que os ministérios da Cultura e da Educação vão pedir uma moratória de dez anos para que Portugal tenha tempo de se adaptar ao novo Acordo Ortográfico. É que o novo acordo, que unifica a escrita em língua portuguesa no países da CPLP, obriga a muitas adaptações e alterações, incluindo nos manuais escolares. Portugal já ratificou o Acordo Ortográfico, mas tem ainda de ratificar o segundo protocolo modificativo do documento. O que, segundo a Ministra, deverá acontecer até ao final do ano. Até agora, só o Brasil, Cabo Verde e S. Tomé o fizeram. Ler aqui a notícia completa. Esta azáfama deve-se à CPLP II - Reunião do Conselho de Ministros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa - que decorreu esta sexta-feira em Lisboa. E que levou o MNE Amado a adiantar que os restantes países que também ainda não o fizeram se comprometeram a ratificá-lo «rapidamente». Está pois tudo explicado. Continuamos a reboque dos interesses do Brasil nesta matéria. Como reconhece o próprio "Jornal do Brasil" de 31.07.2002: "Os brasileiros sentirão as reformas bem menos do que os portugueses". As associações representativas do sector editoral já reagiram. Dizendo e bem que não foram sequer chamadas a pronunciar-se no processo. Nem muito menos o Ministério da Educação é parte nele, como devia.
Lembro-me de uma artigo luminoso do Miguel Esteves Cardoso, a propósito deste Acordo, incluído na compilação "Explicações de Português" (Assírio Alvim, 2ª ed. 2001). Chama-se justamente "O Acordo Tortográfico". Uma brevíssima recensão pode ser aqui encontrada. Querem os promotores do Acordo - dois ou três linguistas encabeçados por Malaca Casteleiro - normalizar administrativamente a ortografia da língua portuguesa. O único beneficiário parece ser o mercado editorial brasileiro. Do lado dos custos, eles serão incalculáveis. O governo deveria denunciar o Acordo, optando por reformas pontuais, em vez de assinar o Protocolo, o que tornará o desvario irreversível. De outro modo, passaremos a escrever o célebre verso de Pessoa como no título deste post.

domingo, 18 de novembro de 2007

O Escrivão

"Bartleby", de Herman Melville, é uma obra singular, centrada na história de um desconcertante escrivão, que declina sistematicamente fazer o que lhe é pedido. Originou uma adaptação para teatro, de Luís Parreira, levada à cena pelos Artistas Unidos, em 2001. A partir de "Bartleby" escreveu António Bento (Professor na UBI e colaborador da revista "Boca de Incêndio") um ensaio notável, cuja leitura recomendo. Inspirado igualmente na obra, Manuel Domingos tem vindo a escrever uma série homónima de textos no seu blogue, onde nos fala dos escritores que inclui na família bartlebiana e que tenho seguido com atenção.

Cogumelos e tudo

Painel dos exemplares recolhidos

A Associação Luzlinar, sediada no Feital (Trancoso), realizou ontem uma actividade chamada (ups!): "Vamos aos tortulhos, comer cogumelos e estudar macrofungos IV (passeio, almoço e conferência)". Pois o escriba esteve lá. Acaso já adivinhava que a coisa iria ser superlativa. E foi mesmo. Pena que o Outono esteja tão seco, primando os fungos pela escassez. Sobre a morfologia dos cogumelos, cuidados a ter na identificação e recolha, quais as espécies comestíveis e as razões porque Portugal é um país micófobo, remeto para aqui, aqui e aqui. A conferência, a cargo da Dra. Sílvia Neves, bióloga, teve duas qualidades fundamentais: suficientemente curta para não se tornar sonolenta; suficientemente rica em informação para estimular um conhecimento mais profundo dos fungos nas várias vertentes: características, papel desempenhado no eco-sistema, reconhecimento e classificação, utilização para fins gastronómicos, farmacêuticos ou industriais, cuidados a ter na sua recolha e preservação e, numa perspectiva antropológica, práticas e costumes associados ao longo da história. Algumas espécies são produzidas em cultura (Agaricus bisporus, Agaricus campestris, Auricularia auricula-judae, Lentinus edodes, Pleurotus ostreatus), mas a maioria dos cogumelos mais valorizados ainda não se consegue obter desta forma e por isso são recolhidos no campo e depois comercializados: Tricholoma Equestre (míscaros), Amanita caesarea (amanita dos césares), Boletus edulis (boletos ou cepes), Cantharellus cibarius, Lactarius deliciosus (sanchas), Fistulina hepatica (língua-de-boi), Macrolepiota Procera (frades ou tortulhos). De entre os mencionados na conferência, chamaram-me a atenção três espécies:
  • o extraordinário Claviceps Purpurea, ou esporão do centeio. Trata-se de um fungo que cresce nas espigas do centeio. É conhecido na Beira Alta por lenticão. Tem propriedades alucinogéneas. De um dos seus alcalóides, em 1943, extraiu Albert Hofmann o LSD. Na Idade Média originou uma doença chamada ergotismo, devido ao consumo daquele cereal.
  • o Amanita Muscaria, o mais popular dos cogumelos mágicos. A sua beleza carismática, difundida pela literatura e pelo imaginário popular, é proporcional à sua toxicidade, graças à psilocibina que contém.
  • o Amanita Caesarea, uma das espécies comestíveis mais apreciadas desde a Antiguidade.
Reservo o inesquecível almoço para o final. Uma verdadeira ode culinária em honra dos "tortulhos". Só para fazer inveja aos leitores, aqui vai a ementa.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Top one



Boards of Canada é um grupo escocês que descobri recentemente e logo ascendeu ao "my favourite things" do momento. É formado por Michael Sandison e Marcus Eoin Sandison. O nome provém do "National Film Board Of Canada", cujas produções de culto inspiraram as sonoridades electrónicas da banda. Ver aqui página no MySpace.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Os novos sofistas


Paulo Pinto Mascarenhas vem explicar, no "Atlântico", como a palavra "mas" se tornou a predilecta na grelha argumentativa da esquerda alucinada que vamos tendo. A propósito, transcrevo uma passagem de "O que resta da Esquerda", de Nick Cohen, obra já aqui assinalada: "Apesar de todo o niilismo criado pelo fim do socialismo, não devemos subestimar as vantagens que traz para os esquerdistas a ausência de um programa político e de princípios. A filosofia deles - ou a falta dela - adequa-se ao consumismo moderno. Não é necessário dedicarmo-nos a uma visão da sociedade e testarmo-la, concorrendo às eleições. Não existem camaradas junto dos quais somos obrigados a ficar quando os tempos estão difíceis. Da mesma maneira que alguém faz compras num centro comercial, não existem lealdades nem deveres e pode-se entrar em qualquer loja que nos agrade. Tudo o que é preciso é ser contra o nosso governo e contra a América. (...) Apesar de dizer que apoia a igualdade, a corrente principal da esquerda não teve problemas em desculpar movimentos antiliberais, porque o triunfo da sua filosofia trazia com ele um legado venenoso e desesperado. Se os ditadores de um Estado estrangeiro ou de um movimento radical, ou os habitualmente não eleitos líderes de uma "comunidade" ou grupo religioso, dizem que a sua cultura exige a opressão das mulheres e dos homossexuais, por exemplo, os esquerdistas do século XX tropeçavam no pensamento de que é racista oporem-se-lhes."

A vida minimal e repetitiva - 4

A vidinha acorda. A vidinha irrompe na voz fanhosa do locutor, lembrando as temperaturas. A vidinha coçante, descolhoante. A vidinha que nos segue para todo lado, com palavras grandes e outras pequeninas. A vidinha a puxar para um passado que nunca existirá. A vidinha a chamar-nos, a chamar-nos, despudoradamente, para o habitáculo possível. Gostava de te dizer, de o dizer aos teus olhos para que me acreditasses, que as palavras existem gravadas na pedra contra o esquecimento. Gostava de te dizer só isso. Provavelmente depois nunca mais me verias e os teus olhos saberiam que eu mentira. Esta conversa diáfana terá sempre poucas ou demasiadas palavras. É impossível a urgência, como é impossível remetê-la ao vazio. Só os corpos e as navalhas ousam falar por dentro das coisas. E as palavras, temem, antes de tudo, impor-se no território dos outros. Mas isso foi antes e fora da vidinha. A tal que nos impingem nas escolas, nas cátedras, nos discursos edificantes, nos balcões da burocracia, na Cultura, nos dois minutinhos de publicidade bancária na rádio, prometendo o céu em troca de juros a 40%. No final vai-se ver e o fato nunca nunca está à medida. Então entra a vidinha, refulgente, gloriosa. A tal. A da mentira sufocante. A esdrúxula, a inquietante, a rasticolante. Lembram-se?

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terça-feira, 13 de novembro de 2007

Neo Neo Realismo

A história chegou-me através de João Tunes. Miguel Urbano Rodrigues, o grande teólogo das vanguardas operárias contra a "fúria destruidora de inspiração ultramontana" das "reformas modernizadoras" de Sócrates - "uma política em que despontam já matizes neofascistas" - acaba de proferir mais uma encíclica. Com sinos a rebate e tudo. O tom jdanovista não engana ninguém: "O povo português está em condições de se assumir em sujeito, como aconteceu em grandes momentos da sua história, e de travar a escalada reaccionária, derrotando o projecto monstruoso em desenvolvimento." E à frente estará sem dúvida M.U.R., o grande emancipador, de megafone em punho. Em que planeta vive esta gente?

¿por qué no te callas?


Eis como Zapatero e o rei Juan Carlos meteram na ordem Hugo Chavez, durante a recente XVII Cimeira Ibero-Americana, realizada em Santiago do Chile. O motivo foram os insultos repetidos que este havia dirigido a Aznar. Ver aqui a notícia completa. Recorde-se-se que o vitalício presidente venezuelano se tornou uma espécie de versão local do "pai dos povos", sucessor de Fidel e arauto do niilismo raivoso e anti-globalização que certa esquerda tanto aprecia. A tal que está pronta a desculpar qualquer movimento ou regime totalitário, mesmo que de cariz fascista ou fundamentalista, desde que anti ocidental e anti-americano em particular. É o delírio. Daniel Oliveira lá vai dizendo que o homem desprestigia a esquerda internacional, mas não deixa de lembrar que Chavez, "pelo menos ainda, não é um ditador", colocando-o ao mesmo nível de Bush, em matéria de legitimidade para governar. Palavra que não sei se afirmações destas revelam simples ignorância da História, desonestidade intelectual, ou provêm de uma obstinada má-fé.

Nota: Chavez vem a Lisboa no dia 20. Segundo consta, para jantar com Sócrates e debater acordos energéticos.

Onde mora a memória obscura,onde



esse cavalo persiste como um relâmpago de pedra,
onde o corpo se nega,onde a noite ensurdece,
caminho sobre pedras na minha casa pobre.
Não conheço esse lago,não fui a esse país.
Mas aqui é um termo ou princípio novo.
Com a baba do cavalo,com os seus nervos mais finos
reconstruí o corpo,silenciei os membros.
Não se estancou a sede,no mesmo caos de agora,
mas a língua rebenta,as vértebras estalam
por uma nova língua,por um cavalo que una
a terra à tua boca,e a tua boca à água.

António Ramos Rosa, de Ciclo do Cavalo (1975)

Preces atendidas - 18



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segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Discurso directo

"Há sempre palavras a mais."
"Sempre me comoveu ver o desamparo em que as pessoas vivem. Acho que esta dimensão nunca foi suficientemente notada nos meus livros. Vivemos num certo desamparo, numa certa desprotecção."
"Já não minto. Já não componho o perfil. Estou aqui diante de vós, nu e desfigurado. Porque a nudez desfigura sempre. Agora, jogo com as cartas abertas. Agora, jogo póquer com as cartas viradas para cima. Agora, já não há nada escondido, está tudo à vista. E ou a mão ganha ou perde. Nos livros, também já não há truques."
"Mas é verdade que me sinto mais livre, sinto-me muito mais livre. Livre para escrever, livre para viver, livre para amar."
"Não penso em nada, é uma surpresa infinita."
"Agora, apenas sinto mais admiração por aquilo a que chamam pessoas comuns. Não existem pessoas comuns. Se temos a arte de fazer com que a alma do outro se abra, então, todas as pessoas são incomuns. Há uma riqueza extrema dentro de cada um de nós. É como nos livros. Ou sabemos tocar no mistério das coisas e, neste caso, o livro é bom. Ou não sabemos tocar no mistério das coisas e, pelo contrário, o livro é mau."

Lobo Antunes, entrevistado pela revista Visão

Blue

O que disse?

O projecto da Câmara de Santa Comba-Dão em construir um Museu dedicado a Salazar e um Centro de Estudos do Estado Novo, na sua antiga casa, está de novo na ordem do dia. Recentemente, foi entregue na AR um abaixo-assinado opondo-se à sua construção, pela mão da jurássica União de Resistentes Anti-Fascistas (URAP). Sobre o assunto, já aqui disse o que pensava. Leia-se também o que escreveu JPP sobre esta matéria, com particular incidência no que poderá ou não albergar a memória histórica num espaço museológico ideologicamente aberto. Quero aqui somente destacar as declarações do promotor da petição prestadas à comunicação social. O homem parecia um mestre-escola, agitando uma galeria de fantasmas de outros tempos, apelos de vigilância "às forças da reacção", entre outras delícias, capazes de o entronizar como um autêntico museu vivo. Sem sequer suspeitar que a sua intolerância é exactamente igual àquela que ostraciza.

Como exemplo de como outros povos convivem com a sua memória, dou o seguinte exemplo: durante a adolescência, passei largas temporadas na Bélgica. Num dos muitos passeios que fiz pelo país, visitei o forte de Bredonk, nos arredores de Antuérpia. Tratava-se de um antigo campo de concentração nazi, que fora transformado num local aberto ao público. O que incluia um centro de documentação e um vasto sector do edifício, restaurado e com informação quanto baste. Recordo-me da existência de um painel sonoro junto às celas, onde, em três línguas, se podiam escutar relatos de alguns dos seus antigos ocupantes. E do número considerável de visitantes. Mas sobretudo do silêncio, que evidenciava um respeito profundo, mas nunca solene. E da ausência de qualquer sinal de aproveitamento, de qualquer explicação, que não a evidência da barbárie.

Ódios de estimação - 3

Clara Ferreira Alves é a pitonisa oficial do regime. Destila oráculos atrás de oráculos sobre personalidades públicas, sobre a situação política aquém e além fronteiras, em especial o conflito israelo-palestiniano, sobre grandezas sociológicas e literárias. Clara Ferreira Alves é muito lida. Adora Graham Greene. Viaja bué. Já quis escrever um romance, mas ficou-se como eterna cronista no "Expresso". Onde vai fazendo e desfazendo reputações, tendências, gostos. Distribuindo estrelinhas e fel pela populaça. Não se lhe conhece obra publicada, prosa com fôlego, a não ser uma recolha das suas crónicas ("Pluma Caprichosa", D. Quixote, 2001). Mas fossem vivos Eça e Ramalho, não lhe poupavam umas bandarilhas na sua ilustração de encher o olho. Clara Ferreira Alves é eximia na insinuação de si própria. É a elegível crónica do stablishment, nas várias "situações" em que este se vai travestindo. Uma vez, chegou mesmo à categoria de "santanete" de luxo, em 2004. Na altura, promovida a directora da Casa Fernando Pessoa, aí pôde passear o seu vasto saber e a sua intuição magnânima. Pouco antes, esteve quase quase a aceitar o convite para dirigir o DN. Mas a senhora padece de uma ingratidão desmedida. Agora veio afirmar, acerca do seu ex-protector, que o homem Não estuda, não se prepara, não sabe decidir ("Eixo do Mal", na SIC-N). Na mesma altura em que, adivinhem, irá ser a entrevistadora oficial do compagnon de route Mário Soares, num programa que irá para o ar na RTP. Do you know what I mean? Humm, Humm! Nuts, nuts! Enfim, tudo indica que VPV acertou na mouche, mais uma vez.

Coleccionismo e pechisbeque

Fui ver as novidades no blogue do TMG. Com alguma surpresa, deparei com uma profusão nunca vista de comentários nas caixas respectivas das últimas postagens. Um sinal de que o debate não é letra morta. Todavia, dei conta de que, por vezes, o anonimato revela o melhor e o pior dos seus autores. A ilustrar a segunda hipótese, veja-se este comentário. Como se nota, até os mistificadores não faltaram à chamada, acorrendo entusiasticamente e fazendo uso dos exercícios masturbatórios a que se resume a sua endurance criativa. A prosa mais parece uma paródia a um texto do Rodrigues Migueis ou do Aquilino, um projecto de guião para um filme do Pedro Costa, ou até mesmo um editorial do jornal "A Guarda". Embora o uso indiscriminado da elipse nos transporte até Faulkner. De qualquer modo, este é dos exemplos mais felizes que tenho encontrado daquilo a que José Gil se refere como uma "não inscrição". Isto é, a ambiguidade com origem no pavor visceral que o português tem em querer conhecer as suas limitações. Sentindo-se desconfortável com aquilo que não conhece e indisponível para o que não compreende. Daí até refugiar-se no limbo do descomprometimento, na teia da virtude permanentemente negociada, na retórica estéril, é um passo lógico. Prova disso é que o resultado deste texto assemelha-se a uma colecção de obscuridades, ao produto de um esguicho solipsista. Ao que parece, com recadinhos cirúrgicos pelo meio. Como uma mensagem criptográfica. Haja paciência!

domingo, 11 de novembro de 2007

Momentos Zen - 27

Percorremos o caminho da ignorância e o da iluminação sonhando

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Mailer

Norman Mailer, provavelmente o maior escritor americano da segunda metade do séc. xx, morreu ontem, aos 84 anos. Li há dez anos "Os Nus e os Mortos" e mais recentemente "Os Exércitos da Noite". Sobre este já aqui foi feita uma breve referência. Não se compreenderá nunca a América dos anos 60 sem a leitura desta obra notável. Pondo a questão em termos claros, os bons escritores são para ser lidos. É só isso que esperam de nós. Por essa razão, "O Fantasma de Hitler" e "O Canto do Carrasco" já estão na minha lista de compras. Sobre Mailer, afirmou Gore Vidal, com quem várias vezes polemizou: "Each time he speaks he must become more bold, more loud, put on brighter motley and shake more foolish bells. Yet of all my contemporaries I retain the greatest affection for Norman as a force and as an artist. He is a man whose faults, though many, add to rather than subtract from the sum of his natural achievements.”

sábado, 10 de novembro de 2007

O alvo

"It's not enough that we do our best; sometimes we have to do what's required."

Winston Churchill

Stalker

O dia estava de feição. Botas calçadas e ala que se fez tarde. O objectivo era o percurso Manteigas (Fonte Santa) - Poço do Inferno, pela estrada florestal (12 Km, ida e volta). Mas também preparar-me devidamente para a travessia da Serra da Malcata que se avizinha, organizada pelo Clube de Montanhismo. Nunca pensei que algum dia iria passear na Serra, em meados de Novembro, com manga curta. Será que o Al Gore tem mesmo razão? Eis algumas das imagens registadas.




Stalker

(cont.)


sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Da Poesia no reino da Super Bock

A história é contada por Paulo da Costa Domingos no site da "Frenesi". Em 1992, Al Berto deslocou-se a Coimbra, a convite de uma revista local. Durante uma sessão de leitura de poemas, no bar da AAC, os apupos dos estudantes foram de tal ordem que o poeta respondeu-lhes à letra. Nos idos de 70, circulava um livrinho de cariz libertário, intitulado "A miséria no meio estudantil". Pois é exactamente disso que se trata. Mais notória porque foi dada a conhecer no meio académico da mais antiga e prestigiada universidade portuguesa. Podia ser noutra qualquer academia. Mas sucedeu naquela por onde passaram Nobre, Antero, Régio, Torga e tantos outros poetas. Em alturas onde os tumultos (havendo) aconteciam depois - certamente por divergências de opinião - e não durante um sarau literário.

O triunfo da abóbora


A abóbora e o dia das bruxas - uma tradição céltica que degenerou no Haloween - tiveram honras de festa, no centro da Guarda, durante os dias 2 e 3 deste mês. A denominada "Festa da Abóbora" foi promovida pela Câmara Municipal, a instâncias da clarividente vereadora do Turismo e do Ambiente. Um grupo de animação de Palmela encarregou-se do circo. De qualquer modo, a cidade precisa urgentemente de uma estratégia clara e consequente na cultura e na promoção da sua imagem. E que passa, quem sabe, por ir à bruxa...

Graffitis - 23

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quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Monções

Um amigo fez-me chegar a notícia do seu blogue, "Fragmentos de uma Viagem". Basicamente, um registo fotográfico e em vídeo da sua estadia no sul da Índia. Será que a inveja consta do elenco dos pecadilhos menores? Se assim for, ainda não deixei de pecar desde que vi as imagens pela primeira vez...

Questões de tamanho

Vexata questio, avançada por Vasco Barreto: "o post curto interessa-me cada vez menos. (...) Já não há grande pachorra para o instante iluminado, o trocadilho bem esgalhado, a facilidade. Desperdiça-se muita inteligência por aí. Gosto do post com métier e suor. Há posts que me levam a livros. A blogosfera é o meu curso universitário ao pequeno-almoço..." Subscrevo em grande parte. Porém, será legítimo associar a qualidade ao tamanho, o brilho ao esforço, a pertinência ao conhecimento? Parece-me bem que não. Muitas vezes, o papaguear escolástico aparece como métier e o suor tem origem na simples endurance. E garanto que se há coisa difícil é produzir um feliz instante iluminado. No entanto, a blogosfera é um universo vastíssimo, capaz de albergar o minimalismo impressionista e o ensaio esclarecido, a subjectividade e a informação, o suor e as lágrimas.

Stalker

Açude, perto de Linhares

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Os fariseus

O novo Código de Processo Penal veio adequar à Constituição os direitos e garantias definidos para os sujeitos processuais. Exige mais e melhor das magistraturas e das polícias, impondo a fundamentação de determinadas decisões, tornando mais transparente a obtenção e valoração dos meios de prova e a impossibilidade da sua utilização de uns casos para os outros - os célebres bancos de ADN criminal da PJ - acabando com determinados expedientes utilizados pelo MP, nomeadamente separar os processos quando convinha ouvir os arguidos em separado e limitando o segredo de Justiça. Em suma, desferiu um sólido golpe no carácter inquisitorial da nossa investigação criminal, tão do agrado dos seus promotores. Daí as reacções corporativas vindas dos actores do costume. Destaque para o inefável Cluny, do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público. O tal que se posiciona, invariavelmente, contra tudo o que se faça de novo no sector e que contrarie as prerrogativas da classe, de há vinte anos para cá. Agora deu uma conferência de imprensa, decalcada de um sketch dos Monty Python. Às tantas, usando o habitual tom jocoso e sibilino, alertou para a utilização de alguns galicismos na nova reforma, o que vai obrigar a uma republicação do Código no DR. Eis o que dá a míngua de argumentos sérios! Eis um contributo inexcedível para a dignificação e a eficácia da Justiça em Portugal! Números como este, se não fossem trágicos, até dariam para umas boas gargalhadas.

Ponto de ordem


Espero freneticamente pela remessa do recém publicado "O que resta da esquerda?" (ed. Aletheia), do britânico Nick Cohen, colunista do "Observer" e do "New Statesman", e que acabei agora de encomendar. Para abrir o apetite, leia-se na íntegra a entrevista dada pelo autor ao jornal "Público". Após uma leitura atenta, fica prometido um comentário neste blogue.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Mais querer

O dialecto futebolês salienta-se pela profusão de expressões rendilhadas por um traquejo poético de vão de escada, a meias com um surrealismo naif. À anafada verbosidade dos comentadores, opinadores, jornalistas e treinadores de bancada, corresponde o discurso vazio, formatado, dos jogadores e treinadores. Recentemente, tomei nota de duas expressões fabulosas: o jogador X joga bem de costas para o adversário e a equipa Y teve mais querer. Sobretudo esta última é notável. Pois usurpa o significado de crer e inculca-o no demasiado prosaico querer. Por outro lado, faz o improvável, empregando um verbo como um substantivo. É que, se na natureza tudo se transforma, na gramática já não. Excepto, pelos vistos, no futebol. Será porque a bola é redonda e se perde porque não se marcam golos?

O regresso de Ulisses

Durante uns dias em Lisboa, coloquei-me sem dificuldade fora da possibilidade da notícia. Tal como Álvaro de Campos em relação ao soco. Jornais, nem cheirá-los. A não ser os de distribuição gratuita. Que por serem uma relativa novidade para quem vive na chamada província, despertam imediatamente a curiosidade. Televisão, só para ver o Benfica. Quanto aos blogues, tela nocent levius, visa venire prius, ou seja, homem prevenido vale por dois. É este o sagrado recato outonal do meu contentamento, o apogeu da descoberta, o lugar do encontro com o que há-de vir. De tal forma que, hoje, ao comprar o jornal, invadiu-me um secreto terror ao antecipar o que lá iria encontrar. Até já.

domingo, 4 de novembro de 2007

Geografia

Os moralistas são pessoas que coçam onde os outros têm comichão

Samuel Beckett